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Avós com novos perfis impulsionam negócios

Eva tem uma agência de viagem para idosos

Tricô, xadrez e livro de receitas já não fazem mais tanto sucesso. O perfil do público da terceira idade – ou melhor idade, como alguns preferem ser chamados – mudou. E o mercado está atento a essa oportunidade. Para quem pensou em presentear alguém, na próxima sexta-feira (26) – Dia dos Avós –, com algum desses já ultrapassados itens, ainda há tempo e mercado para mudar de ideia.

Cada vez mais surgem novos modelos de negócios que buscam atender aos interesses e necessidades desse público mais maduro. Para a analista do Sebrae Viviane Brasil, a independência financeira e o tempo livre são fatores que fazem desse grupo uma oportunidade para o mercado.

“Além disso, é uma população que está crescendo. Um levantamento da OMS (Organização Mundial da Saúde) aponta que em 2025 o Brasil será o sexto país com o maior número de idosos do mundo, com aproximadamente 32 milhões de pessoas. Tudo isso faz do grupo uma oportunidade”, explica.

Mas se engana quem pensa que esses negócios são apenas farmácias e corretoras de planos de saúde. Viviane confirma que o perfil do consumidor idoso mudou. “Eles estão cada vez mais ativos. Muitos continuam nas suas carreiras ou apostam em novos desafios. E querem serviços e atendimento de forma diferenciada, pensados para atender a suas particularidades”.

Janete Maia faz parte desse grupo. Com 78 anos e um nítido ímpeto de aproveitar a vida, ela “não para em casa”.

“Faço pilates, vou ao cinema, adoro andar pelo shopping e viajar. O idoso mudou, não quer mais ficar em casa esperando morrer. Ele quer ir para a rua, aproveitar a vida, consumir, conhecer coisas novas”, conta a aposentada.

Qualidade de vida

Janete tem um apreço especial por suas viagens. Há dez anos elas são realizadas por meio da empresa de Eva Pellegrino, uma agência especializada em excursões para o público da terceira idade.

A ideia de Eva surgiu da união de suas duas paixões: turismo, que lhe levou a uma formação em hotelaria, e a qualidade de vida do idoso, motivada pelo envelhecimento de seu pai e que também lhe rendeu outra formação. Dessa vez em gerontologia – ciência que estuda os processos de envelhecimento humano.

“Quando começamos, em 2001, havia pouca coisa voltada para esse público e um grande preconceito e receio de falar sobre a velhice. De lá para cá, essa demanda só tem crescido, mas poucas empresas sabem atender esse público em suas especificidades. Eles são exigente, mas sabem reconhecer um serviço de excelência”, afirma Eva.

Para Janete e outros viajantes maduros, há uma outra opção: pacotes de intercâmbio específicos para a melhor idade. A empresa de Flávio Crusoe oferece esse serviço há seis anos, quando, através de comentários em tom de brincadeira, percebeu o desejo de pais e avós embarcarem nessa experiência.

“O intercâmbio tem uma variedade de objetivos e faixas etárias. Só que ficou na cabeça do brasileiro que era algo para jovens. As escolas europeias sempre disponibilizaram programas para a terceira idade, porque lá eles pensam o idoso de uma forma diferente”, conta o diretor da empresa.

Os pacotes para a melhor idade são mais “tranquilos, já que não é por uma necessidade profissional”. A duração é menor, entre duas e quatro semanas, e o idoso pode optar por uma turma apenas para intercambistas da mesma faixa etária.

Outra representante desse novo perfil da melhor idade é Darci Pinheiro. A professora aposentada não revela a idade, mas garante que é uma avó ativa e independente. Indicada por seu médico, desde 2012 faz academia com o educador físico Ítalo Reis.

Há 13 anos Ítalo começou a desenvolver trabalhos para o nicho de idosos e cardiopatas. Hoje ele recebe seus alunos em grupos de no máximo cinco pessoas por horário, em espaço próprio.

“O cuidado é redobrado, porque muitos deles desenvolveram algumas doenças. Além disso, há preocupação com outros aspectos. A música, por exemplo, não é aquela típica de academia, a televisão geralmente fica no jornal e até a questão da interação com eles precisa ser diferente”, revela o educador. //A Tarde