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Transtorno bipolar: doença atinge ao menos 8% da população brasileira

Segundo psiquiatra Lúcio Botelho, paciente pode levar 10 anos para identificar doença | Foto: Divulgação

Cerca de 8% da população adulta brasileira é diagnosticada com transtorno bipolar. A Associação Brasileira de Transtorno Bipolar (ABTB) estima que cerca de 15 milhões de brasileiros sejam portadores do quadro psicopatológico. Com o objetivo de chamar atenção para os sintomas, tratamentos e desmistificar o preconceito, a doença é lembrada neste sábado, 30, Dia Mundial do Transtorno Bipolar.

A doença  tem uma variação de tipos e é caracterizada pelos sintomas alternados no humor nas pessoas. Conforme a psicóloga Fernanda Pimenta, estes dois polos são a depressão e a euforia.

“O transtorno afetivo bipolar é um distúrbio psiquiátrico caracterizado pela alternância de humor, muitas vezes repentina. O indivíduo apresenta oscilações súbitas entre a depressão, como tristeza, isolamento social, falta de esperança, e euforia, com agitação, felicidade extrema e excitação”, explicou a psicóloga.

Já o psiquiatra do Espaço Nelson Pires, Lúcio Botelho, ressalta que a maioria dos casos do transtorno não se apresentam de forma repentina. “Teve casos que demoram até 10 anos para serem diagnosticados como bipolaridade. Isso acontece porque, geralmente, os primeiros sinais que um bipolar apresenta são os de depressão e acabam sendo diagnosticados assim”, comentou Lúcio.

Causas

Os fatores que podem levar uma pessoa ao transtorno bipolar ainda estão sendo estudados. Algumas pesquisas mostram que existe um fator genético, além de variáveis ambientais que podem desencadear o desenvolvimento do transtorno.

As variáveis ambientais desencadearam os sintomas em Maria*. Há 29 anos, ela encontrou o noivo em um bar com outra mulher e entrou em uma crise de depressão. “Fiquei um mês sem conseguir dormir um único minuto. Sentia uma tristeza profunda, um sentimento de derrota”, relatou Maria.

Maria ficou quatro meses diagnosticada com depressão, quando descobriram que, na realidade, ela tinha a doença.

Tratamento

A psicóloga Fernanda Pimenta e o psiquiatra Lúcio Botelho concordam que o tratamento ideal para o transtorno bipolar é a aliança entre as duas especialidades. Para um melhor orientação, é importante que o paciente faça um acompanhamento com psicoterapia aliado ao uso de remédios estabilizadores de humor.

A importância desta aliança foi o que salvou Maria e possibilitou que ela conseguisse viver normalmente, sem apresentar crises, até o momento em que ela resolveu parar por conta própria com a terapia e os medicamentos.

“Encontrei um falso terapeuta que me indicou remédios naturais e resultou no pior momento da minha vida. Tive crises tão fortes que precisei ficar internada por dois meses. Além disso, perdi a memória de 23 dias seguidos”, advertiu Maria.

Alerta

O transtorno bipolar é doença sem cura, mas com tratamento e controle. Os profissionais alertam que os sintomas são desencadeados por estressores psicossociais, comuns na vida de todos, mas que a maioria das pessoas não adoece psiquicamente, apenas as que trazem consigo uma vulnerabilidade.

“Nem todas as pessoas possuem regulação emocional e é comum apresentar oscilações de humor e isso não significa que o indivíduo possua o transtorno bipolar. Dessa forma, chamar uma pessoa ‘confusa’ de bipolar por fazer com que essa pessoa realmente acredite que tem um problema”, salientou Fernanda Pimenta.

“Chamar uma pessoa indecisa de bipolar causa uma coisa terrível para quem tem o transtorno: a vulgarização do termo. Às vezes a pessoa tem, mas não acredita ter. Às vezes a pessoa não tem e acredita ter”, completa Lúcio Botelho.

Com o tratamento feito forma correta, a pessoa com transtorno bipolar pode levar uma vida normal. “Com o tratamento o paciente pode trabalhar, estudar, brincar, sair, namorar e nunca mais precisar crises”, finalizou Lúcio. //A Tarde

*Nome fictício, pois a personagem preferiu não ser identificada