Trabalhador rural de Cabeceira do Jiboia produz objetos de artesanato com matéria prima da região
Segundo pesquisadores, os povos antigos, antes de conhecerem a escrita ou de construírem habitações, já produziam obras de arte. Os homens das cavernas faziam bonitas figuras em suas paredes, representando os animais e pessoas da época, com cenas de caças e ritos religiosos. Antes mesmo de o homem pensar em construir habitações, ele já pintava. Por meio da arte, o homem teria humanizado a natureza e a si mesmo.
Essa concepção da história explica as inúmeras descobertas feitas pelo homem ao longo dos séculos, nos mais diferentes locais do planeta, em épocas remotas em que não havia a escrita. Isso mostra que para desenvolver a arte nem sempre é necessário ser alfabetizado, basta ter talento. É o que acontece com o trabalhador rural de Cabeceira do Jiboia, Eduardo Bispo Santos, que é também artesão e contador de histórias.
Natural de Vitória da Conquista, aos 53 anos, Eduardo Bispo não é alfabetizado, mas o que falta em estudo extrapola em criatividade. Há cerca de 30 anos ele começou a produzir peças de artesanato com madeiras da região. Sua primeira peça foi uma marreca, cuja inspiração surgiu de forma espontânea, a partir do toco de uma árvore de café. “Olhei o toco e achei parecido com uma marrequinha, então retirei e terminei de concluir o serviço iniciado pela natureza, o resultado foi perfeito”, lembra.
Inspirado na natureza, Eduardo já produziu milhares de peças de artesanato, a maioria animais da fauna brasileira, a exemplo de macaco, cobra, preguiça, tucano, tatu, gambá, João de Barro, papagaio, arara, gavião, coruja, periquito, diversas espécies de pássaros pequenos, entre outros. Muitos deles são encontrados na região e contribuem para o desenvolvimento da sensibilidade artística do artesão.
As peças produzidas por Eduardo já ficaram expostas na Uesb, onde participou de entrevista à TV Uesb, e no centro da cidade, porém ele não possui um espaço na cidade para expor e vender essa mercadoria. Dessa forma, o que produz é comercializado na própria região, geralmente quando alguém passa em sua casa, no Povoado Jiboia, ao lado do Campo de Mota. O valor das peças depende do tamanho. “Faço mais por prazer porque as pessoas não dão valor e querem pagar pouco demais, tem peça que a gente passa o dia todo ‘briquitando’ pra vender por uma mixaria, pelo dinheiro não vale à pena, mesmo assim eu faço porque gosto”, afirma.
Para produzir o artesanato, Bispo utiliza uma madeira da região conhecida por Banha-de-galinha, é também chamada de Pacova-de-macaco. Segundo ele, é uma madeira mole e tem resistência centenária. Esse trabalho é feito nas horas vagas, geralmente à noite e nos finais de semana, porque durante a semana é trabalhador rural. Os objetos ficam em sua casa e dependurados nas árvores à espera de que alguém se interesse em adquiri-los.
Contador de histórias – Além de artesão, Eduardo Bispo é um grande contador de histórias. Parte dessa criatividade ele herdou dos mais velhos, principalmente da mãe, e outra dele mesmo, como a história do João de Barro Aleijadinho, um morador vizinho seu. “Lá em casa onde eu moro tem dois João de Barrinho, um aleijado e o outro sãozinho, mesmo assim o aleijadinho amassa seu barro com seu pé e seu biquinho e voa com suas asas para o seu ninho, coitado do João de Barro Aleijadinho que vai trabalhar a vida inteira sem ninguém aposentar o coitadinho”.