Televisão

Silvio Santos: de camelô a empresário e ícone da TV brasileira

Silvio Santos começou a trabalhar como camelô, no Rio de Janeiro e, desde o início, mostrou um talento gigante como empreendedor.

A gravação da entrega do Prêmio Roquette Pinto em 1970 retrata bem os dois lados de Sílvio Santos.

O apresentador que foi parte fundamental da história da televisão brasileira e o homem que conseguiu subir na vida por conta própria.

“Eu sempre procuro fazer os melhores negócios”

Foi assim desde o começo. Num ambiente bem distante da telinha, o primeiro teste pro talento de Sílvio Santos foi nas ruas do Rio de Janeiro.

O ano era 1945. Os brasileiros iam votar depois dos anos da ditadura Vargas. Sílvio então decidiu vender capas pra títulos de eleitor e canetas. Precisava do dinheiro pra ajudar nas despesas da família. E pra chamar a atenção da clientela, o então camelô fazia truques de mágica. Só parou quando foi flagrado pela fiscalização. A voz e o jeito de Sílvio Santos chamaram a atenção do fiscal, que deu a dica pra ele: ser locutor de rádio. Sílvio seguiu o conselho e venceu o primeiro concurso de que participou na Rádio Guanabara. Logo passou a trabalhar também em outras rádios.

Nas viagens de barca entre o Rio e Niterói, que fazia pra ir ao trabalho, sentiu falta de uma distração para os passageiros e teve a ideia de instalar um sistema de som no transporte. A novidade era pra divertir e nos intervalos anunciar produtos. A empreitada deu lucro durante três anos, até que a barca quebrou. Sílvio decidiu ir para São Paulo e atuar mais uma vez como locutor de rádio.

Pra melhorar a renda, também criou uma revista, com palavras cruzadas, passatempos e anúncios.

A mente de empreendedor não parava de inventar e Sílvio iniciou um novo projeto na capital paulista. Foi em frente à igreja de Santa Cecília que ele começou a montar shows de circo. O espetáculo fez sucesso e passou a ser apresentado também em outras cidades. Era a caravana do “Peru que Fala”. Sílvio disse que ganhou esse apelido porque pelo menos naquele tempo era tímido, precisava falar muito e ficava vermelho quando estava em público.

No fim dos anos 1950 surgiu outra oportunidade que definiu os rumos da carreira dele. Sílvio assumiu o Baú da Felicidade. O negócio, que era do locutor Manoel de Nóbrega e de um sócio, estava em crise, mas o apresentador viu ali mais uma chance. Os clientes pagavam parcelas mensais para receber um baú de brinquedos no fim do ano. No começo, ele e a mulher faziam as embalagens para entregar. Com o tempo, Sílvio diversificou o negócio e passou a oferecer baús também de outros produtos. Assim, o homem do baú fundou a empresa Sílvio Santos.

Quando estreou na TV Paulista, na década de 1960, Sílvio criou programas para entreter e dar prêmios.

Novos negócios foram surgindo, entre eles construtora, concessionária de carros, seguradora.

Na década de 1970, o grupo Sílvio Santos já tinha 10 empresas. Trabalho era o que não faltava.

“Determinante pro meu sucesso foi o meu trabalho. Trabalhando muito a gente consegue sucesso. É claro que tem alguns fatores, mas os fatores são subjetivos, como sorte”, diz.

Depois veio a aquisição do primeiro canal de TV, seguido por outros que formam o SBT, Sistema Brasileiro de Televisão.

A facilidade para se comunicar de forma simples, direta e de ser entendido por todo mundo era um dos principais trunfos. As carreiras de apresentador e de empreendedor andavam juntas. Sílvio era o animador do programa… e ao mesmo tempo, o patrão.

Mas na década de 2000, um dos empreendimentos de Sílvio Santos, o Banco Panamericano, viveu uma crise financeira que colocou em risco as outras empresas do grupo.

Em 2011, o banco foi vendido. Mas isso não tirou o bom humor habitual de Sílvio Santos.

“Se eu vendi o banco? Qual banco? de jardim? Eu vendi o banco porque eu fiz questão de… se eu não entendo de banco, para que que eu vou ficar com o banco?”

Hoje, além da TV, o grupo Sílvio Santos tem empresas do ramo imobiliário, de capitalização, cosméticos e hotelaria. Sílvio chegou a brincar em entrevistas dizendo que era um bom comerciante e que tinha conseguido transformar o Sílvio Santos num produto de sucesso.

“O Senor Abravanel tem o Sílvio Santos como produto. Então, o Senor Abravanel administra o Sílvio Santos.”

Dizia também que não deixava nenhuma voz falar mais alto do que a intuição e dava um conselho a quem quer vencer na vida.

“Uma das coisas que não deve preocupar quem quer se meter em qualquer tipo de negócio é não se preocupar com os elogios ou com as críticas. Se você fizer aquilo que a sua intuição manda e usar bom senso, deixando de lado a vaidade, você tem todas as possibilidades de conseguir o seu objetivo. Todas as coisas são difíceis. Todas as coisas têm que ser lutadas. E quando você consegue uma coisa fácil, desconfie porque ela não é tão fácil quanto parece.”

Muito antes das ideias de empreendedorismo serem mais difundidas no país, Sílvio Santos já se orgulhava da própria trajetória. Sucesso que ele atribuía à dedicação, ao trabalho e à força de vontade.