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Prefeito de Manaus chora, pede ajuda e diz que Bolsonaro tem de ser presidente de verdade

O prefeito de Manaus, Arthur Virgílio Neto, afirmou à coluna Painel, da Folha, que 91% dos leitos de UTI da capital do Amazonas estão ocupados e que certamente há subnotificação de casos de coronavírus da cidade. Até o momento, os números oficiais mostram que a cidade tem 1.809 casos e 163 mortes pela covid-19.

O chefe do Executivo municipal também demonstra preocupação com o número de pessoas que morrem em casa. No domingo (19), 17% das 122 pessoas enterradas na cidade não perderam a vida no hospital. Na segunda (20), o número já chegou a 36,5% das 108.

“São números que mostram o colapso. Estamos chegando no ponto muito doloroso, ao qual não precisaríamos ter chegado se tivéssemos praticado a horizontalidade da quarentena, no qual o médico terá que se fazer a pergunta: salvo o jovem ou o velho? Estamos em ponto de barbárie”, disse, na entrevista à Folha.

Na segunda (20), Virgílio reuniu-se com o vice-presidente, Hamilton Mourão, para apresentar as demandas da cidade na pandemia. A capital precisa de aparelhos de tomografia, profissionais treinados, equipamentos de proteção individual e remédios.

O prefeito de Manaus ainda afirmou à coluna que aproveitou o encontro para desabafar contra o presidente Jair Bolsonaro. Ele, cujo pai, o senador Arthur Virgílio Filho, teve o mandato cassado pela ditadura militar, revoltou-se com a presença do presidente no ato pró-golpe militar de domingo (19). Segundo Virgílio, Mourão ouviu calado.

“Não podia deixar de condenar o presidente participar de um comício, aglomerando, e ainda por cima tecendo loas a essa coisa absurda que foi o AI-5. Cassou meu pai, cassou Mário Covas, pessoas acima de quaisquer suspeitas, e que serviam o país”, diz.

“É de extremo mau gosto o presidente participar de um comício, insistentemente contrariando a Organização Mundial da Saúde e os esforços que fazem governadores e prefeitos”, acrescentou Virgílio. “Bolsonaro toca diariamente nas minhas feridas.”

Na entrevista, Virgílio ainda chorou ao comentar a declaração do presidente Jair Bolsonaro, que disse que “não é coveiro” após ter sido perguntado pela Folha sobre o número de mortes por coronavírus. “Queria dizer para ele que tenho muitos coveiros adoecidos. Alguns em estado grave. Tenho muito respeito pelos coveiros. Não sei se ele serviria para ser coveiro. Talvez não servisse. Tomara que ele assuma as funções de verdadeiro presidente da República. Uma delas é respeitar os coveiros”, afirma Virgílio.