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O que uma análise dos tuítes de Bolsonaro revela sobre seu governo

Assim como na campanha, o presidente usa o microblog para fazer ataques frequentes à imprensa.

Como descrever os primeiros 100 dias do governo de Jair Bolsonaro em um tuíte? Certamente, com palavras como “imprensa”, “mídia”, “fake news” e “ideologia”. ÉPOCA analisou os mais de 3 mil tuítes publicados pelo presidente desde outubro de 2017, quando ainda era um pré-candidato desacreditado, até o dia 6 de março deste ano. A “imprensa” e a “mídia” foram mencionadas mais de 120 vezes, quase sempre de modo depreciativo. Essa contagem não contabiliza as mais de 20 vezes em que usou “fake news”, a expressão popularizada pelo presidente americano Donald Trump para deslegitimar os veículos jornalísticos incômodos a seu governo.

Nesse mesmo período, Bolsonaro se referiu apenas nove vezes à “Previdência” e 11 vezes a Paulo Guedes, o superministro da Economia. Os outros assuntos que rivalizam com imprensa no ranking dos tuítes de Bolsonaro são seus opositores. Nessa lista estão termos como “esquerda”, “petistas”, o ex-presidente Lula (32 menções) e outros adversários acusados de “corruptos”, de propagar “ideologia” e de lutar para transformar o Brasil numa “Venezuela”.

O presidente segue os passos de Trump e de outros líderes populistas, como o presidente turco Recep Tayyip Erdogan, que transformaram a rede social em veículos de comunicação oficiais de seus governos e elegeram a imprensa como alvo preferencial de seus ataques.

O uso do Twitter como palanque eleitoral, canal de comunicação oficial da Presidência e tribunal da oposição e da imprensa propõe desafios urgentes para a política e também para o jornalismo profissional. Como cobrir o Twitter presidencial? As declarações limitadas a 280 caracteres têm o mesmo valor noticioso que comunicados oficiais e declarações colhidas por repórteres em entrevistas coletivas? Como impedir que a enxurrada de tuítes presidenciais sobre “ideologia” ou o comportamento carnavalesco sequestre o debate público e represe discussões de fato importantes? O esvaziamento do papel mediador da imprensa enfraquece a democracia?

 

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