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Bahia

Jaques Wagner diz que Rui Costa vai desconstruir adversários nos debates

Jaques Wagner, governador da Bahia. Foto: Gabriel Oliveira

Jaques Wagner, governador da Bahia. Foto: Gabriel Oliveira

Tribuna da Bahia

Em final de mandato e na corrida para eleger o seu sucessor nas eleições de 5 de outubro, o governador Jaques Wagner (PT) exibe a tranquilidade de quem já saiu vitorioso das urnas por duas vezes, no primeiro turno, em 2006 e 2010. “Eu continuo achando que é muito possível ele ganhar no primeiro turno, mas, não falo isso porque essa não é a bandeira. A bandeira é ganhar”, previu, se referindo ao seu candidato ao governo, Rui Costa (PT).

Segundo ele, Rui articulou os principais projetos importantes para a Bahia nesse mandato. Wagner também destaca a influência da presidente Dilma Rousseff (PT) e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na escolha do eleitor.

Na entrevista, concedida durante o primeiro almoço na sede da Tribuna, em comemoração aos 45 anos do jornal, ele fez referências ao amigo e aos tempos de ministro do Trabalho.

Na avaliação da disputa ao Senado, Wagner revela que o candidato da oposição, Geddel Vieira Lima (PMDB), tem taxa maior de conhecimento, porém aposta no currículo de seu aliado, Otto Alencar (PSD), e na lógica que teria prevalecido nos últimos pleitos, de o governador puxar votos para o senador.

O chefe do Executivo critica a falta de projeto da oposição. “Qual é o projeto político que é o guarda-chuva da chapa? É o projeto do PMDB? Do DEM? O nosso tem projeto, o nacional de Lula, Dilma e o meu e os nossos aliados”, disse.

Nesta entrevista, Wagner ressalta ainda a reeleição da presidente Dilma Rousseff (PT), apesar de admitir as dificuldades na área econômica.

Tribuna da Bahia – A campanha está nas ruas. Qual a avaliação que o senhor faz?
Jaques Wagner – Tivemos belos comícios em Ribeira do Pombal e São Francisco do Conde. A majoritária fez diversas carreatas bastante receptivas. O quadro no interior está muito consolidado e agora vai começar o processo de campanha mesmo. Eu, pessoalmente, acho que a nossa campanha está bem.

Não é algo novo, uma empolgação, Souto. Rui é muito mais novidade pela idade e por não ter exercido função do Executivo. Se for comparar o vice, não dá pra comparar o peso de Leão para o de Joaci. E sobre a disputa do Senado eu acredito que a história de Otto é muito mais consolidada do que a de Geddel. Eu não quero escalar time dos outros, mas a nossa chapa está muito mais na lógica e a de lá está invertida, pois, um ex-governador tem muito mais cara de senador do que concorrer novamente.

Tribuna – Qual a maior dificuldade da chapa de governo?
Wagner – O maior desafio a ser superado agora na campanha é transformar Rui em um candidato mais conhecido do que ele está. Eu tenho até medo de falar muito, pois já tomei uma multa de R$ 53 mil por comentar uma pesquisa… Não sei se posso falar… Mas, a taxa de desconhecimento de Rui está na casa dos 46%, e 99% já ouviu falar de Souto. Esse desafio está sendo vencido com uma série de fatores: carreatas, propaganda e vem aí o horário eleitoral. Tudo isso não foi diferente do que aconteceu comigo. Eu, em 2002, quando não ganhei, saí de 1% e fui para 38% e depois saí de 7% e ganhamos! Eu acho que esse é o desafio. Claro que temos um leque de alianças amplo, muitas prefeituras, e o nosso segundo desafio é fazer essa composição. E quando você desce ao município, você tem dois grupos políticos adversários locais e estão unidos em nosso nome: essa é a nossa arte para articular. Quando dos dois grupos fazem campanha, não vou interferir no município. Crescemos muito no tempo de TV. Em 2010 tive 5 minutos, Rui vai ter 8. Rui vai apanhar com 7 minutos, mas tem Lídice ainda, mas é outra vertente que não dá para dizer que é a mesma. 

Tribuna – Essa unidade, no seu ponto de vista, entre DEM e PMDB, torna a chapa de oposição mais competitiva?
Wagner – Eu acho que existe uma junção e não unidade. É público e todo mundo sabe o trauma e o mal-estar que foi. É algo que até que não me compete, pois não gosto de ficar falando dos outros, mas eu sei que tava tudo certo para ser Geddel o candidato. Se fosse outro desenho, saberíamos, mas não quero citar nomes. Mas é claro que não tem uma combinação, mas um ajuste. Todo mundo sabe que Joaci não foi escolhido pelo PSDB. Qual é o projeto político que é o guarda-chuva da chapa? É o projeto do PMDB? Do DEM? O nosso tem projeto, o nacional de Lula, Dilma e o meu e os nossos aliados. Eu acho que você ganha com projeto e não um somatório por si só de votos. Eu acho que se juntaram, mas não tem unidade. Mas toda campanha para mim é dura, não tem uma fácil e acho que temos muita consistência para ter boa campanha e um bom desempenho na eleição e acredito absolutamente na vitória. Eu só consigo enxergar melhor a eleição, 15 dias depois do processo de televisão e rádio, antes a instabilidade de avaliações é imensa. Vou repetir: qualquer pesquisa que você fizer não dá 10% de votos para espontânea. Eu acho que temos serviços prestados, serviços políticos e uma chapa competitiva, um candidato jovem, estudioso, conhece a Bahia bem, um cabra que conseguiu respeito no Congresso Nacional e toda equipe da Dilma, inclusive nela própria. Eu levei em uma das reuniões que avaliava a questão da estiagem e da seca, onde ela [Dilma] presidia, fui com Rui. Lá ele fez três intervenções, depois ela me chamou num canto e disse ‘já entendi porque você o escolheu’. Rui vai ser melhor governador que eu. A gente, hoje, tem uma articulação muito boa, por exemplo, temos mais deputado que Antônio Carlos teve no período dele e não foi feito à base do tacão, mas de convencimento e argumento. Não é coação, mas sedução. Otto e João Leão são meus amigos e são laços que não vejo do lado de lá. É igual a futebol: se todo mundo joga com o mesmo esquema tático, o jogo só daria empate. Nós temos um grupo consolidado, têm relações internas e externas, Leão tem votação grande e tem experiência e é um bom líder. 

Tribuna – Qual deverá ser o foco dos discursos do candidato Rui Costa?
Wagner – Eu acho que o discurso que Rui fará depende dele. Eu estou dando total liberdade, mesmo não estando na coordenação direta da campanha. A liderança tem que ser ele. O pessoal até reclama de mim, mas eu tenho que deixar o protagonismo de cada um fluir. Eu estou, por exemplo, no conselho de Administração. Eu vou a todos os atos de campanha, vou para televisão, vou pedir foto, darei sugestões, mas digo a ele: ‘Rui, não se preocupe comigo’. Eu tenho uma missão que será a de eleger ele, Dilma e Otto. Eu não tenho esse lance de ciúme. Vai ter muita crítica, mas Rui vai falar de futuro. Ele foi meu articulador político na primeira e meu chefe da Casa Civil na segunda. Eu brinco que ele é o pai da mobilidade, é fato! Ele desenrolou esses projetos todos: Imbuí, metrô e tantos outros. Ele tem que falar de futuro, os relatórios são seus fiadores. Quando nós inauguramos a Via Expressa, o pessoal gritava: “governador, assuma o metrô que sai”. O pessoal sabe quem está fazendo. Evidente que os princípios que conduzem os projetos de Rui são os mesmos que me conduzem. A condução, visão nossa de mundo é a mesma. A tarefa principal do governo e gerar desenvolvimento sustentável. Eu não sou neoliberal, eles são. O ex-governador reclamou de baixa arrecadação, mas não dá. O receituário deles é voltar ao problema de enfrentar qualquer crise com recessão e desemprego, não é meu receituário. O grande partido social democrático do Brasil chama-se Partido dos Trabalhadores. Não existe social democracia sem lastro no movimento social e sindical.  E o PSDB, por exemplo, não tem isso. Nós somos. Como jogamos a regra do jogo, no fundo é isso. Eu acho que o PT tem grande dívida, depois de 12 anos, outros também têm, como a reforma política. Ninguém aguenta mais ter eleição de dois em dois anos. Você mal sentou na cadeira e já está pensando na próxima. Tem quer ter eleição de cinco em cinco anos, sem reeleição. Eu me considero uma transição da concentração de poder, por isso acredito que Rui será melhor que eu. O meu governo, principalmente nos primeiros quatro anos, que foi menos construção do que esse, foi um processo de arrumação. A máquina não estava preparada para ter os três poderes atuando de verdade. Eu acho que fui transição de um sistema de poucos acham que poderiam mudar. No desenvolvimento econômico, por exemplo, os empresários elogiam que qualquer empresa pode se firmar no estado. Era fácil, na época passada, chegar e abrir caminho só para uma indústria. 

Tribuna – Uma das questões que serão mais debatidas na campanha será a segurança pública. Como o candidato Rui Costa será preparado para o enfrentamento?
Wagner – Eu reconheço que eu não consegui, nos primeiros quatro anos, implementar o que estava na minha cabeça. Eu disse que desde o primeiro momento foi que segurança é planejamento. O primeiro secretário tateou e não andou, com todo respeito. O segundo, que foi César (Nunes), grande policial, mas ainda é daquela escola do voluntarismo. Nós não conseguimos implementar processo de mudar a cultura. Aqui a Polícia Militar ninguém sabia qual era a regra, pois a regra era a vontade do telefonema que tocava. Como você dá pulso a uma instituição que depende fundamentalmente de disciplina, hierarquia e todo mundo tem que saber que o limite de autoridade é a lei se a regra era autoridade não tem limite? Então desorganiza tudo. Eu prendo ou não? Tem problema? Comigo, a Polícia Civil sabe que não precisa me perguntar nada. Eu acho que começamos a deslanchar mais quando conseguimos implantar o Pacto pela Vida. Nada diferente do planejamento feito em Belo Horizonte, Pernambuco e que são as melhores práticas. Estamos melhorando a capacidade de diagnosticar, o reconhecimento das pessoas, o mapa da mina do crime, tem integração com o Judiciário…

Tribuna – E porque essas ações não conseguem ser sentidas?
Wagner – É óbvio que em nível do meio de comunicação, o que dá audiência é falar do crime e da ação da polícia. Isso pode ser bom para o veículo, mais até na televisão. Uma coisa é a segurança real e a outra a sensação de segurança, no psicológico. Tem quatro anos consecutivos que temos redução de homicídios em Salvador. O ano de 2011, nos últimos dez anos, foi a primeira vez que caiu. 2012 ia cair ainda mais, mas fizeram um absurdo daquela greve que saíram matando nas ruas e 2013 caindo 8%. Se me perguntar: está satisfeito? Digo não. Caiu, mas o patamar é alto. O ex-governador vai ter que dar explicações. Nos quatro anos antes da minha posse, a taxa de homicídio foi de 87%, a minha é de 60%. Continuo insatisfeito, quero uma taxa negativa. Nos quatro anos dele foi reduzido os contingentes da polícia, cresceu homicídio, e se for pegar os sete anos antes de mim é 63% no meu e 240% no deles. Aí como é César Borges, que mesmo estando do meu lado, eu não falo de pessoas, mas de sistemas. A moçada nova já pegou novidade de armamento, antigamente era ‘miseravão’. Eu investi duas vezes mais. Ele tem que reconhecer que estamos em um caminho irreversível. Hoje quem senta na reunião do Pacto pela Vida é o Márcio Fahel (novo chefe do Ministério Público) e Erseval Rocha (presidente do Tribunal de Justiça) e eu. Isso nunca foi visto na Bahia. Hoje as pessoas sabem que tem caminho. Você tocou em um ponto. Se eu pudesse contratar e, olha que eu sou o que mais contratou, contrataria mais 15 mil, mas eu não tenho orçamento, estou perto do limite prudencial. Você tem limitação. Você tem razão: o estado do tamanho da Bahia tem que ter mais policiais. Por isso muita gente discute do governo federal criar um sistema de segurança único, tipo um SUS, compartilhar essa tarefa, mas isso seria muito complicado. Ninguém tem saída mágica. Digo, qualquer número, de segurança, que você quiser, Paulo Souto não tem um argumento verdadeiro para se credenciar. Lídice pode falar, pois nunca foi governadora, mas ele não tem um argumento de segurança. Números de pessoas, perde. Salário de policiais, perde. Infra, da bota a farda, armamento e comunicação, perde. Veículo, perde. Comunicação, não tem o que falar. Inteligência, perde. Naquela época só se falava de Ravengar e hoje não tem nenhum grande chefe do crime em atuação aqui na Bahia. Durante a campanha vou mostrar os números e Rui terá os projetos dele.

Tribuna – Outro ponto falado é a questão financeira. Passou por momentos de muita dificuldade e Paulo Souto chegou a falar que o maior desafio do próximo governador, além da segurança, será tentar sanar as finanças da Bahia. Qual a sua avaliação sobre isso?
Wagner – Ele tem visão fiscalista de governo e eu não tenho. Evidente que podemos melhorar na arrecadação e acho que Manoel Vitório, chefe da Sefaz, tem feito um excelente trabalho. Ele deu uma arrumada boa. Hoje nosso nível de dívida é 0,54%, cuja lei garante até 2.0%. Temos problema na Bahia que somos o terceiro pior orçamento per capita do país. Sergipe é melhor que nós. Temos baixa capacidade de investimento. Eu quero dizer que tem muito colega do partido dele [Paulo Souto] que não fez o que eu fiz. Falar é fácil, mas colocar um dado… Eu digo que muitos dos que ladeiam eles não tiveram os nossos avanços. Na previdência ele me deixou um buraco e vou deixar para o próximo perto de R$ 1 bilhão em caixa. Eu acho estranho ele falar disso. Ele deixou um Funprev, dos funcionários, deficitário. Eu tenho que colocar quase R$ 2 bilhões por ano para fechar as contas da previdência. Se eu não tivesse o fundo que estou fazendo, eu poderia ter R$ 2 bilhões para colocar em obras. Como Rui conhece isso tudo, nós vamos para o debate. Queria muito ir para o debate com o ex-governador Paulo Souto. Pergunte a Braskem, a Odebrecht quem foi que viabilizou a petroquímica baiana? Fui eu! E disse isso a eles! Souto prometeu uma série de incentivos, mas deixou todo mundo pendurado e quem pagou fui eu. Reduzimos ICMS. Nós criamos regras, veio a Natura, a O Boticário porque, além do mercado, tem um governo que tem começo, meio e fim. Eu acho estranho ele falar. Eu questiono: por que Souto não deixou um centavo no Funprev? Por que não pagou nada de incentivo da indústria para crescer? Por que nunca mexeu no ICMS da nafta? Só pensa em arrecadar! Eu penso em viabilizar. O passado dele o condena. Como não quer discutir o passado? O passado é o currículo dele. E olhe que não tenho nada contra Souto. O considero honesto, sério, de boa qualidade, mas segue um modelo político.

Tribuna – Qual o cenário que o senhor faz da economia?
Wagner – Está todo mundo apertando o cerco. Eu acho que a gente tem um indicador que merece ser ressaltado que é a menor taxa de desemprego do país, por isso que eu insisto a gente tem que apertar a inflação, tem ajuste fiscal para fazer, terá que fazer o ajuste fiscal no próximo governo. Com certeza, até por isso que eu voto na Dilma porque eu acho que ela tem muito mais capacidade para fazer e compromisso para isso do que alguém que chegue novo. Agora todo mundo está apertado. Eu não tenho aqui na cabeça, mas saiu recentemente os estados que fizeram superávit, os que fizeram déficit primário. Têm vários aí. Por exemplo, o fundo de previdência que eu tenho, Minas Gerais tinha e já estava na casa de R$ 3 bilhões e pouco. Ele aprovou uma lei na Assembleia porque tem maioria e desovou o fundo na fonte 00 para gastar. Pernambuco teve déficit primário um dos maiores do país e, no entanto, vai fazer o discurso da responsabilidade fiscal. Evidente que estamos apertados, ninguém tem folga, mas não tem nenhuma sangria desatada. Estamos fazendo negociação dos royalties agora. Conseguimos ter aprovado no Senado dois empréstimos no Banco Mundial.

Por que é assim? Porque todo mundo veio na batida de acelerar a economia. Quando chega no último ano, principalmente para quem acaba o mandato como é o meu caso, o de Anastasia (Minas) e Eduardo (Pernambuco) não se consegue mais pedalar para o ano que vem porque quando você está dentro do governo, uma dívida desse ano você passa para o ano que vem. Na Lei de Responsabilidade Fiscal quando você vai terminar o mandato você tem que fechar. Se você for em Pernambuco tem gente sem receber. Não é diferente e eu insisto que somos o estado com pior per capita fiscal. Não dá pra comparar o nosso orçamento com o do Rio de Janeiro.

Tribuna – Qual o maior desafio do futuro governador?
Wagner – Olha, eu diria que não é o maior desafio, mas a missão maior do próximo governador pra mim pelo menos, não sei se ganhar a oposição, mas é continuar em um processo de modernização do estado e de investimento no social. Têm bases lançadas, é óbvio que respiramos o que for respirado em nível nacional, mas para mim é continuar melhorando a infraestrutura. Seguramente no próximo nós teremos a Ferrovia Oeste Leste, o Porto Sul, o programa de aeroportos regionais que nós vamos ter que aumentar os voos regionais muito. A Azul já está pedindo voo para Teixeira de Freitas e Feira de Santana. O desafio é grande porque nós fomos o estado que mais diminuiu pobreza, diminuiu a mortalidade infantil. Promoveu o acesso à água, mas a Bahia ainda é laboratório de qualquer coisa que se teste no social. A gente sabe disso. Melhorou muito o trabalho da agricultura familiar, eu acho que a sustentação do campo para nós é importante. Nós temos 640 mil famílias vivendo de agricultura familiar, são cerca de 3 milhões de pessoas. Isso não é pouca coisa.

Tribuna – O que o senhor deixou de fazer, mas que tentará colocar em prática até o final do governo? O senhor se sente realizado?
Wagner – Repare. Em volume é óbvio que eu queria ter feito mais, porém você tem limites. Às vezes as pessoas dizem: – Governador, o senhor não mudou nada. Realmente as minhas convicções não. Agora, quando você sai da cadeira de filho e senta na cadeira de pai, quem lhe conduz são suas convicções, mas elas têm que ser mediadas com a realidade objetiva. Eu era ministro do presidente Lula quando ele deu o segundo aumento do salário mínimo em 2004. Em 2003 ele entrou, aí o orçamento já estava votado pelo Fernando Henrique (ex-presidente). Não tinha muito que se fazer. Você tinha que dar o que estava previsto. Quando chegou ao segundo ano que o orçamento já era dele, virou discussão na coordenação do governo que eu fazia parte com a Fazenda querendo uma coisa mais conservadora e eu ministro do Trabalho e outros querendo uma coisa mais arrojada. O presidente que tem uma memória mais privilegiada, intuitiva, quando viu os números preferiu ficar no mais conservador. À noite eu estava trabalhando, no dia do anúncio, de quanto seria o reajuste e é provável que fosse modesto, não tão significativo, e ele me chamou e disse: – Galego, será que a gente ganhou essa eleição e não vai conseguir fazer o que a vida inteira a gente reclamou? Aí a lágrima veio no olho dele. Isso é uma questão muito de alma dele. Naquela época ainda era feito o anuncio em 1° de maio, hoje é janeiro. Ele disse pra mim: – Eu não vou nem pra São Bernardo porque não sei nem o que vou dizer para o povo (e muita gente da esquerda do partido realmente foi contra e eu vivi muito isso). Como ministro, eu acho que lealdade para quem serve é obrigação. Quando você não está satisfeito, pega o seu embornal e cai fora. Deslealdade para quem não está satisfeito é argumento dos fracos. Aí eu vim e tive que discutir com o PT várias vezes e ouvia: – Está indo pra direita! Eu falei: – Velho, é o que a gente tem. É melhor a gente ajudar a consertar do que ficar reclamando demais. Então ele não foi no 1º de maio histórico que ele sempre foi em São Bernardo. Eu digo assim, você não perde suas convicções e eu não perdi nenhumas delas. Agora, é lógico que você vai mediando. Acho que a melhor comparação é aquela de pai e filho. Quando a gente é filho, é só reclamação. Quando a gente é pai, é só explicação para não poder fazer o que o filho está reclamando. A vida é assim. Agora você não é outro homem. Filho ou pai, você tem os mesmos valores. Eu disse pra um cara outro dia: – Tivemos a eleição de 2012, que eu tinha o maior interesse em eleger Nelson Pelegrino. Você acha que se coubesse no meu orçamento quem era o maior interessado para dar o aumento aqui? Eu. Entra 2014, se eu pudesse contratar 10 mil policiais? Agora, independente de quem vai ganhar, eu não vou estourar o estado por conta disso, que foi o que o Lula fez naquele dia. Quando veio a história do mensalão, uma porção de consultor, me perdoe, de esquina de bar disse: – Oh presidente, dê uma estourada aí no orçamento. Segura aquela moçada lá embaixo. Ele disse: – Não. Eu não vou comprometer o futuro do país – e ele valorizava muito o que Fernando Henrique tinha feito do ponto de vista do real. Eu prefiro ser julgado pela história. Eu vou pra rua me explicar? Não vou meter mão no orçamento. Se fosse outro… É por isso que me reto às vezes, quando vejo algumas pessoas quererem compará-lo (quando estava no governo ainda) com Chaves. Isso é de uma injustiça absurda porque quando teve essa história de mensalão se ele quisesse saía comprando gente aqui em baixo. Ele dizia: – Eu vou pra rua conversar com o povo e seguro a onda. Mas não. Não estourou o orçamento. Se fosse outro deixa vir a inflação, arrebenta esse bagulho e eu vou fazer graça, dando aumento para funcionário e virar rei. Ele nunca fez. Se tem uma coisa que ele não é é populista. Ele é popular, fala cheio de metáfora, mas populista não é. Ele criou o Bolsa Família, ao contrário do que muita gente conservadora fala, não foi para fazer conta política, ah, que eu vou ter uma porção de eleitores, mas é para a conta da vida dele que viu a mãe passar fome. Ele está certo quando diz que quem não se alimenta não tem condição de ser cidadão. Eu brinco sempre. Entra empresário falando: – Governador, eu quero investir no estado. Terreno, terraplanagem, isenção fiscal, você fecha a conta é bilhão. Eu dou Bolsa Família e fecho a conta em milhão.

Tribuna – O senhor teme que a situação da economia que estamos passando, com o PIB retraído e trazendo problemas para diversos setores, respingue na política até as eleições?
Wagner – Eu acho que a economia tem impacto direto na política. A sensação de bem-estar, futuro, de prosperidade é fundamental. A equipe dela (Dilma Rousseff) está avaliando, o momento não é fácil. O momento piora. Sem querer fazer dicotomia, mas vamos pegar o exemplo da Copa. Se trabalhou anunciando o apocalipse. Quer dizer, nós perdemos um pedaço da fatura e não foi nada disso. A gente viu que lá fora houve elogios. Não teve problema. Na economia é a mesma coisa. Na semana passada fui a São Paulo conversar com a direção do Bradesco, do Safra. Fui ao Rio conversar com a Petrobras, com a Vale. Tem coisas que estão ruins que não são culpa nossa. Por exemplo, a Vale, o desempenho não é tão satisfatório porque o preço do minério de ferro caiu pela metade. Então eu vendo, vendo e vendo, mas a minha taxa de retorno foi lá pra baixo. A saúde financeira da empresa não está boa, então aí segura daí e dali, portanto temos um impacto. A Europa só parou de piorar, mas não melhorou ainda. Os EUA começaram a melhorar. Recentemente saiu um livro, que até vou me dar de presente, que é alguém falando também das entranhas da sociedade americana. Eles têm habilidade de não botar pra fora. Alguém diz que melhorou, mas a taxa de pobreza lá. Isso não vai pra rua. Acho que podemos ter problemas, óbvio, se desandar a economia. Eu não acho que isso vá acontecer daqui até outubro.  Reconheço porque eu quando fui conversar com o Bradesco alguém falou: – O senhor sabe que vai ter que dar um tranco. Eu falei: – Você prefere que o tranco seja em outubro ou em janeiro? Ele respondeu: – Em outubro. Eu brinquei: – Por isso que eu voto na Dilma. Todo mundo sabe que tem que fazer um ajuste. Eu prefiro que ele seja antecipado. E acho que alguém novo que chegue não vai ter o pique de fazer o que precisa ser feito.

Tribuna – Na sua opinião, esse ajuste não poderia ser feito ano passado, quando as condições eram um pouco melhores que hoje?
Wagner – Olha, eu aprendi com o (Henrique) Meireles, quando eu era ministro e ele presidente do Banco Central, que realmente o manejo da economia era como aquele jogo de pega varetas que jogávamos quando crianças. A arte era mexer em uma sem mexer no resto. Na economia, para mexer em uma e não mexer no resto é difícil. Eu acho que realmente ficou. Faz uma isenção de IPI aqui, outra ali… Foram fazendo correções que talvez pudesse ter sido feita uma mais macro. Quando Meireles estava lá, todo mundo ficava me perguntando de taxa de juros. Eu dizia: – Olha, eu aprendi um negócio. Eu não discuto mais taxa de juros porque você só consegue avaliar depois. E eu me lembro, como se fosse hoje, em uma reunião do Ministério, ele explicando que o efeito do juro é igual quando você liga a torneira de água quente. Você liga e até chegar a água quente demora um tempo. Quer dizer, eu tomo uma medida, mas eu só vou saber se funcionou como eu queria(… ) é uma arte a condução de uma economia complexa como a nossa. É obvio que quando dá certo, todo mundo diz que o cara é um gênio. Quando dá errado, todo mundo diz que poderia ter feito assim ou assado. Eu não estou dizendo que não necessariamente não pudesse ter sido feito, agora eu acredito na equipe, acredito nela. Acho que ela tem a consciência disso. Mas o aperto passa mais pelos estados. As contas dos estados estão mais sob a lupa das empresas de rating internacional do que as contas da Federação. Você tem que fazer superávit. Se os estados não fazem, a conta fica toda lá em cima. Isso eu estou falando porque ela já me disse: – Oh, o pessoal está de olho do desempenho dos estados.

Tribuna – O senhor acha que o PIB vai ficar em quanto?
Wagner – Eu ainda aposto que ele vai ficar em torno de 2%.

Tribuna – Mesmo com as previsões tão negativas?
Wagner – Repare. Esse período do ano nunca foi dos melhores. Tem muito a ver com o mundo lá fora. Não depende só de nós. A gente é muito exportador. Se o mundo fosse consumir menos minério, menos celulose que a gente produz aqui… Mas, repare que estamos conseguindo manter nível de emprego que eu acho que é de todos, o mais importante, apesar de que aumenta o medo de perder o emprego. Agora tem um bombardeio como nunca se teve em cima dela 

Tribuna – Aqui na Bahia, a presidente Dilma Rousseff vai conseguir manter o favoritismo que ela tem até hoje ou a oposição vai ter margem para fazer o candidato Aécio Neves crescer e a própria senadora Lídice da Mata tornar Eduardo Campos conhecido?
Wagner – 
Hoje mesmo me ligou um prefeito do interior e disse: – Oh governador aqui está fácil de fazer campanha. Quando diz que Rui é o candidato de Dilma e Lula, todo mundo abre o dente. Ela está aqui com 62%, Aécio tem 11%, 12%, Eduardo tem 6%, 7%. Às vezes Aécio bate 14%. Mas é uma diferença grande. Isso está muito consolidado. É diferente do Sul e Sudeste, onde talvez a marca do governo federal não seja tão mostrada. Por exemplo, Alckmin dissipa muito as marcas do governo. O que tem de intervenção do governo federal em São Paulo que ela vai colocar na rua agora! Por isso que eu digo que ainda estamos muito na futurologia. Eu prefiro esperar 15 dias ou mais um pouco.

Tribuna – Há favoritos no cenário do Senado na Bahia, já que é uma disputa de um turno só e há três candidatos fortes?
Wagner – A história baiana das últimas três décadas sempre aponta uma convergência do governo estadual com o senador. Foi assim com Waldir Pires, com Antonio Carlos Magalhães, com Paulo Souto e comigo. Continuo achando que essa vai ser a lógica. Como eu acredito que Rui chega à frente no primeiro turno (não estou dizendo ganhar no primeiro turno). As pessoas perguntam às vezes: – Vai ganhar no primeiro turno? Eu respondo: – Eu não faço essa aposta. Essa aposta depende de dois votos. Cinquenta por cento mais um ganha, cinquenta por cento menos um vai para o segundo turno. Então não me peça para ter essa precisão cirúrgica em avaliação que não existe. Você pode dizer – Oh, Lídice vai minguar, Paulo Souto não sei o que lá. Todo mundo jurava que eu não ia para o segundo turno e eu ganhei no primeiro. Todo mundo jurava que ia ter segundo turno em 2010 porque tinha dois candidatos fortes, um do PMDB e outro do DEM e eu ganhei no primeiro com 64%. Então cabeça de gente que é paixão e eleição é paixão, é difícil.

Tribuna – Qual a diferença de números? Rui chega com quanto no primeiro turno?
Wagner – Eu disse que não vou falar porque eu acredito que, mal comparando com 2010 que tinha Geddel e Paulo Souto, hoje tem Paulo Souto e Lídice. Eu continuo achando que é muito possível ele ganhar no primeiro turno, mas não falo isso porque essa não é a bandeira. A bandeira é ganhar. 

Tribuna – Existe alguma dificuldade para o senador Walter Pinheiro incorporar a campanha?
Wagner – Não. Eu viajei duas vezes com ele para o interior do estado. Não existe mágoa, nenhum ressentimento, nenhum ânimo de  não querer contribuir. Ao contrário. Eu falei com ele, ele está dando opinião, está indo para o comitê.

Tribuna – O que o senhor não fez e pretende fazer até dezembro?
Wagner – Do planejamento que nós tínhamos, tudo nós começamos. Algumas coisas nós aceleramos, outras não andamos tão rápido, mas, em tudo que a gente fez de programa, de desejo – eu digo que na área imaterial mesmo, acho que mudamos as relações com a sociedade, com o empresariado, com os partidos políticos, com a imprensa, com os movimentos sociais, com o Judiciário. Eu acho que a relação é outra e ninguém quer voltar atrás. A não ser um nicho que era privilegiado com a política anterior e que adoraria a volta da panelinha ou da corriola para dizer: – Aqui quem manda sou eu! Estou falando isso porque ouço isso de tudo quanto é empresário. Claro que eu queria fazer um pouco mais de tudo porque a distância entre a realidade e o ideal é grande.