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FreeDas: um aplicativo de transporte criado por e para mulheres

Lorena Moreira de Souza e Gisele Ramos de Souza são as duas irmãs que criaram o primeiro aplicativo de transporte para mulheres do Sudoeste

Há cerca de dois meses duas jovens conquistenses resolveram que era o momento de investir em segurança e inovar no mercado feminino. Lorena Moreira de Souza e Gisele Ramos de Souza são duas irmãs, trabalham com tecnologia e criaram o primeiro aplicativo de transporte para mulheres da região Sudoeste, o FreeDas, que está disponível desde o dia 19 de agosto na loja do Play Store e no App Store para baixar gratuitamente

Segundo Gisele, a ideia do aplicativo surgiu a partir das vivências no Rede Donnas Empreendedoras, um projeto que foi desenvolvido por elas e que foca na educação sobre o empreendedorismo feminino. “Fomos conhecendo as histórias das mulheres que participavam do projeto e detectamos que a falta de segurança em aplicativos de transporte era uma pauta corriqueira nas conversas. Então comecei a planejar com Gisele uma forma de contemplar tanto as mulheres que querem trabalhar como motoristas e quanto as passageiras que sentem e ficam inseguras’’, relembra. Surgiu assim o FreeDas, o primeiro aplicativo de transporte feito exclusivamente para motoristas e passageiras mulheres na região.

Fonte: Reprodução/Divulgação.

Gisele defende ainda que este é o momento de incentivar a entrada do público feminino em uma profissão que é predominantemente masculina. “Em algumas metrópoles já existem aplicativos onde só mulheres dirigem, mas são lugares onde o número de habitantes triplica o de Conquista, não imaginávamos que teria uma procura tão grande e em tão pouco tempo, me sinto otimista e acho que pela recepção que tivemos das mulheres interessadas, essa plataforma tem muito a crescer.”

Com quase 800 downloads em dois dias do seu lançamento, Gisele conta que um mês antes o aplicativo passou por um processo de testes e recrutamento das motoristas para trabalharem com o transporte de pessoas. Logo após um período de divulgação, as motoristas que tiveram interesse em fazer parte do FreeDas foram pré-selecionadas para uma reunião. Para poder informar, para mostrar como funcionava a plataforma, para ver quem seriam elas que estariam com a gente nesse período”, afirma. Após esse primeiro contato, foram selecionadas cerca de 80 motoristas, que já  estão ativas na plataforma.

Por se tratar de uma startup, que utiliza a tecnologia para conectar pessoas, assim como a Uber, normalmente não se tem um controle de quem está usando a plataforma. Portanto, um dos problemas enfrentados por Lorena e Gisele ao desenvolverem o FreeDas foi  desenvolver um mecanismo de controle para que apenas mulheres usassem o aplicativo. Para isso, elas criaram regras de conduta e já instruíram as motoristas selecionadas à recusarem a corrida no momento em que perceberem que o cliente é um homem e, logo em seguida, reportarem ao aplicativo para que a conta dessa pessoa seja suspensa do sistema.

Além disso, por se tratar de um aplicativo exclusivamente para mulheres e pensando também na segurança das próprias motoristas, Lorena conta que, nesse primeiro momento, optaram por entrarem contato com elas diariamente e acompanhar de perto as corridas. Nesse primeiro momento, elas estão recebendo o suporte de um profissional de TI para solucionar dúvidas ou problemas relacionados ao uso da plataforma.

Assédio contra mulheres

Além de incentivar a entrada das mulheres e gerar emprego, a plataforma nasce com a proposta de diminuir o índice de assédio em corridas de aplicativo. Em fevereiro deste ano, os institutos Patrícia Galvão e Locomotiva, com apoio da Uber, fizeram uma pesquisa com 1.081 mulheres que utilizaram transporte público, táxi ou aplicativo de transporte três meses anteriores ao inicio da coleta de dados. Com um percentual bastante expressivo, 97% das mulheres afirmaram ter passado por situações de assédio sexual nesses contextos.

As mulheres foram questionadas quais as situações de assédio enfrentadas. Nos aplicativos de transporte, todas passaram por ao menos uma. Olhares insistentes (10%), cantadas indesejadas (9%), comentários de cunho sexual (4%), ser encoxada (2%), passarem mão no corpo (2%), gestos obscenos (2%), ser seguida (2%), mensagens inoportunas por aplicativo (2%), se masturbarem (1%), exibir partes íntimas (1%), estupro (1%), ser fotografada (1%) e beijada a força (1%). Situações sofridas por mulheres que apenas estavam vivendo a própria vida.

Em Conquista, em 2018, o influencer Israell Cavalcante, ao voltar para casa em um carro do aplicativo Uber, vivenciou uma situação que demonstra o quanto pode ser perigoso para um mulher viajar com um homem. Em vídeo, ele registrou as falas do motorista, aparentemente alcoolizado, que se referia às mulheres com os termos “piriguetona” e “cachorrona”, e postou em sua conta no Instagram. O caso teve grande repercussão na cidade pelo grande número de compartilhamento Após a denúncia, outras mulheres relataram que haviam sido vítimas do mesmo motorista.

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