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Comunicação Social Vitória da Conquista

Entrevista com Duda Rangel, o jornalista que não existe

Anderson-Emerson

Os irmãos gêmeos Anderson e Emerson Couto são jornalistas e criadores do personagem Duda Rangel

Conversa de Balcão

Jornalista, desempregado, abandonado pela mulher, que reclama dos “pescoções”*, da grana curta e dos assessores de imprensa. Ele ri da própria desgraça e faz graça com os perrengues da profissão, que afirma ser apaixonante.  ”Jornalismo é como colesterol ruim. Tá no sangue da gente”, escreveu Duda Rangel, o jornalista em questão, que criou o blog Desilusões Perdidas para publicar suas crônicas, suas paródias e suas poesias sobre a dura batalha de ser o que é. Nele, Duda fala sobre jabá, censura, sexo (e a falta dele), a rotina de um jornal, a queda do diploma, brindes, coffee break, colegas de trabalho, liberdade de expressão, carteiradas, vícios e virtudes (e a falta dela), entre outras coisas.

O blog, criado no início de 2009, já ultrapassou mais de um milhão de acessos, com cerca de 70 mil visitas ao mês. No Twitter, Duda tem quase 18 mil seguidores e quase 10 mil pessoas já curtiram sua página no Facebook.  O fato é que Duda Rangel não existe! Ele é um personagem criado por dois jornalistas de São Paulo, os irmãos gêmeos Anderson e Emerson Couto. Mas, as histórias de Duda são tão reais e tão próximas de muitos jornalistas que ele existe sim, na Bahia, no Rio de Janeiro, no Amazonas, no Pará, e até em Portugal, na Espanha e na Argentina. Em toda parte, há quem se identifique com ele!

No ano passado, os irmãos publicaram um livro com o melhor (ou o pior) do blog. Sobre o sucesso do personagem, jornalismo, humor e outras coisas, um dos criadores, Emerson Couto, falou via Facebook ao Conversa de Balcão. Confira o bate-papo!

Como surgiu a ideia do blog Desilusões Perdidas?

No fim de 2008, Anderson e eu queríamos retomar um projeto de escrever humor que tínhamos na faculdade, muitos anos atrás, e depois ficou esquecido. Foi quando decidimos criar o blog, que foi ao ar em janeiro de 2009. Queríamos escrever ficção porque sempre curtimos. O jornalismo sempre fez parte da nossa vida profissional e esta foi a razão de escolher criar Duda, um jornalista.

Vocês dois se formaram em jornalismo juntos?

Eu me formei em 94 e Anderson em 95, na mesma faculdade: Metodista, em São Bernardo do Campo (SP).

Mas, já tinham afinidade com o humor.

A gente escreve humor desde criança, desde as redações do primário. Mas, a gente nunca levou a sério a coisa. Foi sempre para descontrair. Na faculdade, cada um de nós tinha seu próprio fanzine de humor. Faziam sucesso, mas depois que a gente virou jornalista “sério”, deixamos o humor de lado. Retomamos só agora com o blog, que também nasceu como uma brincadeira, para os amigos, e acabou crescendo bem mais do que a gente imaginava.

E vocês ainda atuam como jornalistas?

Não trabalhamos mais em redação, mas fazemos trabalhos ligados ao jornalismo, como textos para publicações corporativas. Sou parceiro de um escritório de gestão de imagem e reputação, que trabalha com a exposição de pessoas e empresas na mídia.

Vocês dois que gerenciam as redes e alimentam o blog?

Sim, a gente faz tudo sozinho. O blog é 100% autoral, produzimos todos os textos. Divulgamos, vendemos o livro e ainda temos de correr atrás da grana para pagar as contas. A gente criou algumas estratégias para fazer a coisa funcionar. Escrevo até de madrugada. Hoje, somos jornalistas independentes, prestamos serviços. E isso nos dá flexibilidade para fazer tudo.

As condições de trabalho pioraram, então?

A gente curte fazer isso. E por isso funciona. A nossa ideia é até poder se dedicar no futuro a escrever humor, roteiros etc. Já fizemos várias coisas dentro da área de comunicação, mas escrever é que o nos dá um puta prazer, seja um texto puramente jornalístico ou uma crônica engraçadinha. É o tal negócio de contar história.

E quais os projetos para o Duda?

O próximo passo agora é tentar adaptar o Duda para um seriado de TV ou web. Já temos o argumento, os episódios e alguns roteiros já escritos. Vamos negociar com duas produtoras de São Paulo agora para ver o que rola, se numa TV ou na web, ou não rola. A gente também tem a ideia de lançar outro blog do Duda, mas falando de outros temas além do jornalismo.

Além da vontade de trabalhar com o humor, o blog é fruto da desilusão com o jornalismo, como sugere o nome?

Todo jornalista se desilude com a profissão em algum momento, pelas mais diversas razões. A gente também viveu isso. Mas, também vemos as coisas boas da profissão que são muitas. O blog é uma mistura de tudo, das coisas boas e ruins. O nome do blog, apesar de parecer negativo, não é. Perder as desilusões é superar os traumas e curtir o jornalismo.

Qual a experiência de vocês com o jornalismo?

Nossa experiência em redação tradicional é muito parecida e basicamente em mídia impressa (hard news/jornalismo diário). Trabalhei por quase oito anos no O Estado de São Paulo (Estadão). Anderson um pouco menos que isso. Trabalhamos juntos lá e até assinamos matérias juntos. Fora isso, colaboramos com um monte de outros lugares, mas sempre mídia impressa. O blog fala muito de jornalismo impresso por causa disso.

Existe o Duda de verdade ou são pedacinhos de colegas de profissão?

Duda é um anti-herói. O cara meio torto. Adoramos este tipo de cara e queríamos que o narrador do blog fosse assim. Gente muito certinha soa falso. Este é o perfil central do Duda. E as pessoas curtem o Duda assim, se identificam com seus problemas. E isso é muito legal. Duda é um pouco de mim, do Anderson, de amigos, de amigos dos amigos, de histórias que ouvimos por aí.

O fato de ser um anti-herói já incomodou algum jornalista? Afinal, o Duda fala muitas verdades, inimagináveis para quem acredita e defende o ethos jornalístico.

Teve um ou outro menino mimado que já ficou puto. Mas são raros. Este é o típico iludido que acha que o mundo é perfeito e ninguém pode ousar dizer o inverso. Mas 99,9% dos leitores até curtem isso, justamente pela questão da identificação. Quando você sabe que mais gente compartilha suas neuras, seus dramas etc., vê que não está sozinho no mundo. Nunca foi a nossa pretensão, mas o Duda é terapêutico para muita gente. Em vez de pagar uma grana alta para o analista, é só ler o blog do Duda.

E como você analisa o fato de saírem do tal “quarto poder” e fazerem sucesso com um blog e via redes sociais?

Primeiro, a gente não usa a expressão quarto poder para se referir à imprensa, porque esta é outra típica ilusão de jornalista (risos). Quando a gente começou a escrever um blog, a ideia era aproveitar um canal legal que estava à nossa disposição para expressar o nosso humor. Antes, tudo era muito mais complicado. Nos tempos dos fanzines, a gente xerocava e distribuía de mão em mão para um público muito mais restrito. As redes sociais são excelentes hoje para quem quer se expressar e alcançar muita gente. Este é lado bom da tecnologia, facilita muito as coisas. Graças às redes sociais, somos lidos em um monte de cidades de todo o Brasil e até por gente de fora do Brasil, brasileiros que moram no exterior, portugueses, espanhóis, argentinos e outros latinos. Isso é muito legal.

Jornalistas do mundo inteiro então têm um pouco do Duda, não é?

Se a gente pensar em Brasil, por mais que as realidades sejam diferentes, variam de estado para estado, cidade para cidade, há muita coisa em comum também para os jornalistas. Muita coisa daqui de São Paulo tem a ver com a realidade de um jornalista do interior do Amazonas, por exemplo. Isso, nós percebemos pelo contato com as pessoas pelas redes sociais. Agora, com o livro, estamos fazendo lançamentos pelo país e encontramos “Dudas” em todos os cantos. E há semelhanças também com jornalistas de fora. Isso é engraçado.

Apesar dos pesares, ainda tem gente fazendo vestibular para jornalismo. Qual conselho que você dá para o jovem que quer ser jornalista?

Por mais que área seja difícil, ainda acredito que há espaço para quem é bom. A dica é sempre esta: tente ser o melhor jornalista possível, estude muito além da faculdade, leia, se incomode, questione, seja humilde, seja curioso. E hoje estamos vivendo uma transformação das mídias, das relações convencionais de trabalho. Os jovens precisam criar estas alternativas, outros caminhos. A gente não precisa ficar mais dependente dos velhos jornais para se expressar.

E qual a dificuldade em ser jornalista hoje em dia?

O mercado enxuto e cruel, mas porque ainda somos dependentes do velho mercado de trabalho, dos velhos jornais. Por isso que acredito que é preciso criar outros meios de expressão. A coisa já está em transformação e o processo é, claro, meio doloroso. Mas, sou otimista com o futuro.

O que é mais difícil, fazer humor ou jornalismo?

São dificuldades diferentes. Escrever ficção e humor exige criatividade, uma linguagem peculiar. Jornalismo é o deadline, a necessidade de informação apurada de forma correta, você depende mais dos outros para que a coisa aconteça. O ponto em comum é que as duas tarefas são desafiantes, principalmente para quem curte escrever.

Para concluir, me responde a pergunta que está lá no blog: afinal, o que é ser jornalista?

Fizemos um concurso com esta pergunta recentemente e veio todo tipo de resposta. E ser jornalista não tem uma resposta única, pronta. Duda escreveu que ser jornalista é um pouco o jeito que cada um vê ou sente a profissão. A essência é ter tesão pela profissão. É o que nos move. Se a gente não gostar de ser jornalista não consegue se envolver com ela e enfrentar os obstáculos.

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