Brasil

Deu match em tempo de polarização: solteiros usam posicionamento político como filtro para escolher pretendentes

Escolher o filme no cinema, a cor das cortinas ou o tipo de comida para o jantar. Em tempos de polarização política, alguns solteiros em busca de um relacionamento dariam tudo para ter apenas esse tipo de discordância nas futuras relações. O que eles querem fugir mesmo é de posicionamentos políticos e ideológicos diferentes.

Uma pesquisa realizada pela Universidade Federal Fluminense (UFF), por exemplo, apontou que nos aplicativos de namoro esse tem sido um critério fundamental na hora de dar o match. Entre os entrevistados, 58% afirmaram que buscam identificar nas redes sociais o posicionamento político do pretendente, para só então dar prosseguimento à relação. Atrelado a isso, 30% afirmam que fazem questão de apresentar essa informação no próprio perfil.

A analista de dados Ananda Costa faz parte desses números. Em seu perfil nos aplicativos de namoro, o recado é claro: não há match para eleitores do presidente Jair Bolsonaro (PL). Caso o pretendente não mostre logo no primeiro contato sua ideologia política, ela vai em busca de algum vestígio. Se encontrar o número do candidato ou a bandeira do Brasil, ela não titubeia e retira o match.

Não precisa ser nenhum stalker (perseguidor) para encontrar vestígios. De acordo com Ananda, as pessoas costumam expor seus posicionamentos nos aplicativos, justamente para não correr o risco de errar o alvo.

“Temos percebido que o posicionamento ideológico mostra também um padrão de comportamento. Se eu tenho incompatibilidade política significa que muitos dos meus valores e pensamentos sociais não são compatíveis com os daquela pessoa. E assim vai ser difícil estabelecer uma conexão”, explica Ananda.

Casada e mãe de duas filhas, Lucimara Luz consegue contornar as diferenças políticas com seu marido. Ela é petista e ele, bolsonarista. Ainda assim, conversam sobre política e as propostas para o país sem atritos. Uma das filhas do casal também não esconde seu posicionamento político em casa e é respeitada pelos pais.

“O segredo é o diálogo e o respeito. Não concordamos, mas respeitamos, não temos o direito de impor um posicionamento ao outro. E o diálogo e o respeito às diferenças começam na família, em casa”, diz.

Lucimara, no entanto, sabe que não é isso que acontece em todos os relacionamentos. Ela conta, por exemplo, que tem amigas que ficaram sem falar com seus esposos por conta de divergências políticas. E apesar de garantir que não afeta a sua relação, Lucimara não nega que tem a esperança de ver o marido mudar seu posicionamento até o domingo, dia do segundo turno.

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