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Com Marta e Formiga, Vadão convoca seleção feminina para a Copa do Mundo

Vadão definiu as 23 jogadoras que disputarão a Copa do Mundo da França pelo Brasil Foto: Rener Pinheiro/MoWA Press

 

O técnico Vadão convocou as 23 jogadoras que representarão o Brasil na Copa do Mundo da França, em junho. Na sede da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio de Janeiro, Vadão incluiu uma recordista na lista: a meio-campista Formiga, que disputará sua sétima Copa do Mundo, fato inédito entre homens e mulheres.

— Queria agradecer a todas as atletas que participaram deste ciclo. Sempre haverá oportunidades em outros torneios. A lista pode ser mudada até o dia 26. Temos competições até lá, torcemos para que ninguém se lesione, mas podemos fazer mudanças. Gostaria de agradecer o clube de Portugal que nos cederá a estrutura, o Portimonense. Espero que seja uma preparação de muito proveito para a Copa do Mundo da França. Certamente somos candidatos ao título — Marco Aurélio Cunha, coordenador da modalidade da CBF.

O comandante da seleção também comentou as escolhas e o momento da preparação.

— Repito o agradecimento às 51 atletas que passaram pela gente em treinos e jogos. Sempre a CBF nos apoiou para observar de perto essas jogadoras. É um momento de escolher 23, muita gente fica de fora, mas agradeço todas que estiveram conosco.

Confira a lista completa das convocadas para a Copa do Mundo:

GOLEIRAS

Aline – Tenerife (ESP)

Barbara – Avaí

Letícia Izidoro – Corinthians

LATERAIS

Fabiana Baiana – Internacional

Letícia Santos – Sand (ALE)

Tamires – Fortuna Hjorring (DIN)

Camila – Orlando Pride (EUA)

ZAGUEIRAS

Erika – Corinthians

Kathellen – Bordeaux (FRA)

Mônica – Corinthians

Tayla – Benfica (POR)

MEIO-CAMPISTAS

Andressinha – Portland Thorns (EUA)

Formiga – PSG (FRA)

Adriana – Corinthians

Thaisa – Milan (ITA)

Bia Zaneratto – Incheon Hyundai (COR)

ATACANTES

Cristiane – São Paulo

Raquel – Huelva (ESP)

Debinha – North Carolina Courage (EUA)

Geyse – Benfica (POR)

Ludmila – Atlético de Madrid (ESP)

Marta – Orlando (EUA)

Andressa Alves – Barcelona (ESP)

Leia trechos da entrevista de Vadão

Formiga

Ela não é desse mundo. Acabou de renovar por mais um ano com o PSG, aos 41 anos. É uma referência, não poderia ficar de fora desse projeto nunca.

Marta

Marta é Marta. Muita gente também fala que o Messi não joga na Argentina como joga no Barcelona. Assisti um jogo do Orlando, que o time perdeu. As grandes jogadoras da seleção não jogaram, havia muito desfalques. Mesmo assim a Marta foi o destaque. O Orlando não fez grande jogo, mas quando ela pegava na bola, sempre criava algo interessante, diferente. Marta ainda é a Marta, ela ainda não tem uma idade tão avançada assim. A equipe tem que ajudar a ela, criarmos uma estrutura para ela decidir.

Adversárias

A Jamaica é uma equipe que não foge da característica do futebol africano (sic), joga em função da centroavante, estica a bola sempre nela. É uma equipe forte e veloz. Queremos explorar alguns erros, distância entre as linhas, etc. Vamos ver como chega até lá. A Austrália vem num crescente, com resultados muito bons nas pequenas competições e eliminatórias. São favoritas na briga. A Itália, até pouco tempo atrás, não representava tanto em termos mundiais. Houve muito investimento. Hoje a Itália joga compacta, muito forte na defesa, como o masculino, e com passes rápidos e jogadas fortes pelas laterais. É um time bem diferente do que disputou o Torneio Internacional de Manaus, sendo vice para nós. Houve uma ascensão. A chave é bem equilibrada e todo cuidado é pouco. Haverá dificuldade para todos nós. Será uma primeira fase muito competitiva. Temos que levar todas com o mesmo respeito.

Atletas em recuperação

Infelizmente a Rafa e a Bruna Benites ficaram um período grande conosco, nos esforçamos muito para tê-las, mas não foi possível. A Cristiane melhorou muito, era uma lesão muscular, mais simples, diferente das duas que eram cirurgia. Ela está muito satisfeita, feliz, contente, teve ótima recuperação, ganhou 3kg de massa muscular e está muito bem. A Bia sofreu uma fratura na fíbula e precisava de uma consolidação óssea. Ontem ela fez uma radiografia e houve essa consolidação. Apesar das dores, ela conseguirá estar bem após os 15 dias. É uma jogadora muito importante.

Base da seleção

Realmente mantivemos uma base que acreditamos muito. Chegaram jovens atletas, puxamos a Letícia da sub 20, Camilinha, Andressinha, Geyse da sub20, fizemos uma mescla boa. A Kethellen, Adriana, pouca gente conhecia. Fizemos um trabalho forte de prospecção e investimos em jovens atletas, mas a base é a mesma, preferimos manter o maior número de atletas em condições. A Formiga retornou para nos ajudar porque é muito importante.

Resultados

Os resultados são coisa do passado. É um momento de falar em correção. Estamos agora trabalhando para evoluir, chegaremos tática e fisicamente treinados. Tivemos o privilégio de estar juntos nessa época das derrotas, mas com poucos treinamentos. Houveram as contusões, que citei, parte da nossa base. Não havia tempo hábil de formar outra. Tivemos dificuldades, sim, mas dentro desses 15 dias, conseguiremos acertar tudo. As atletas estão conscientes. Após o jogo contra a Escócia, fizemos uma reunião, elas opinaram o que devemos fazer para o Mundial. Vamos trocar muita ideia nesses 15 dias, foi unanimidade. Seja aspectos técnicos ou de planejamento.

Aumento da relevância do futebol feminino para o público

Faz toda diferença o Campeonato Brasileiro. Hoje temos jogos, posso estar in loco, posso acompanhar as atletas pela televisão. Melhorou muito. Demos o “start”, mas o país ainda não teve tempo hábil para colher os frutos. Não adiantava fazer projeto e não executar. Agora começamos, era o mais importante. Tem que implantar. O mais importante é fazer, faz diferença principalmente para garimpagem de talentos.

Futebol em alto nível

Temos que ter insistência na concentração. O futebol feminino também é resolvido em detalhes. São poucos jogos, é uma competição de tiro curto. Jogamos melhor contra a Espanha, mas eles foram mais efetivos. O que mais aprendi das últimas experiências é que temos de ter foco na concentração e sermos cirúrgicos para resolver as partidas.

Cobrança

É normal. A dificuldade aumentou. São muitos concorrentes. 24 times e um só título. Só um time vai vencer. Outras potências não ganharão. É uma cobrança normal, não nos incomoda. Pelo contrário, até, é algo que nos motiva. Se estivermos na zona de conforto que o próprio inconsciente da gente nos trai no dia a dia.

Modelo de jogo

Temos independência tática. Nosso modelo em 2015 foi um 4-3-3. Jogamos bem, fizemos uma boa primeira fase, mas não criávamos tantas chances. A gente mudou no PAN pro 442, com quatro atacantes, duas recompondo uma linha de quatro. Ganhamos jogando bem e mantivemos pras Olimpíadas. No 442, Marta mais a frente. No 433, ela é mais organizadora. Temos esses dois esquemas e vamos variar conforme os adversários e o andar dos jogos.

Pressão pelos resultados

Lido com tranquilidade. A diretoria me passa essa tranquilidade. Essa gestão da CBF fez diferente das outras. No masculino, mantiveram o Tite. Agora, me mantiveram também. Agradeço a confiança de todos. Eu tive um período negativo agora, mas ganhamos torneios internacionais, ganhamos de equipes fortes, vencemos o PAN, Copa América, atravessamos um momento difícil agora, mas a diretoria entendeu que o saldo era positivo. Tenho experiência suficiente para lidar com esse momento. A minha tranquilidade eu passo para as jogadoras, em função do respaldo que a diretoria me deu, na confiança que a CBF tem em mim.

Resultados ruins

Metade da nossa equipe esteve fora em vários jogos importantes. Jogadoras de férias, em tempo curto de treinamento, contra os melhores times do mundo. O nosso calendário é prejudicado porque cada atleta está em um lugar do planeta. Esse ano, fomos para os Estados Unidos. Metade da equipe jogava o campeonato europeu e outra metade se preparava para iniciar a temporada. É difícil. Agora pegaremos as atletas num nível melhor, no meio do ano, com um período maior de treinos. Será melhor do que estamos acostumados.

Vestiário

Características diferentes. Elas conseguem se comunicar melhor, falam todas juntas e se entendem. Quando a gente perde, é um alvoroço. O masculino não tem tanto isso, discutem menos. As mulheres discutem mais. As vezes é mais difícil acalmá-las. Temos que aprender a lidar. Achei que sabia lidar com mulheres, tenho esposa há 30 anos, filha, mas é diferente lidar com 30. É um período curto, mais difícil, um intervalo, um pós jogo, mas acho que já peguei o jeito.

Ausência de Gabi Zanotti

A Gabi sempre esteve conosco. Quando eu cheguei, ela não estava aqui. Infelizmente, nesse momento de escolha, temos que fazer opções. Darlene, Thaís Guedes, ótimas atletas, não estão conosco. Infelizmente não cabe todo mundo. Elas estão nessa lista larga, das opções que temos em caso de lesão. Pensamos que essas que convocamos se encaixa melhor. A imprensa tem preferência, o torcedor tem preferência, a diretoria… Mas treinador não pode ter, é engraçado. Temos critérios que a gente leva. A gente analisa a parte técnica, tática, pessoal, temos que optar, não dá para levar todo mundo.

Opções táticas e modelo de jogo

Eu comecei minha carreira em 1992. Fiz o Mogi Mirim ser conhecido pela versatilidade. Toda atleta que joga em mais de uma posição me cativa. Em fase ruim, o treinador nunca tem razão. As jogadoras fazem múltiplas funções. Escalo jogadoras em diferentes posições, porque vejo que elas podem render. A Camilinha, a Andressa Alves, são muitas jogadoras que conseguem me ajudar em diferentes lugares no campo. Gosto muito de polivalência. A Camilinha jogou de volante, lateral e meio campo comigo. A Andressa jogou nas pontas, de centroavante e no meio. A Marta mesmo joga em várias. Tenho o privilégio de ter essas atletas para mexer diferente no time. É uma característica minha, que gosto mundo.

Ausência de atletas do Santos

Convocamos a Tayla, que está no Benfica, mas até dois ou três meses atrás era do Santos. A Maurine seria convocada, mas optou por não seguir na seleção. Nossa goleira também era de lá, mas optamos por outra. No passado recente, sempre tivemos.

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