Com mais de 1.500 alunos com alguma deficiência matriculados na rede, Prefeitura prioriza educação inclusiva
A Prefeitura de Vitória da Conquista, por meio da Secretaria Municipal de Educação (Smed), vem trabalhando para garantir educação inclusiva de qualidade no município. Ao todo, a rede tem 1.517 alunos com algum tipo de deficiência matriculados. Destes, 50 são surdos ou apresentam algum tipo de deficiência auditiva. A Escola Municipal Frei Serafim do Amparo, situada na zona oeste, tem uma sala de Atendimento Educacional Especializado (AEE), exclusiva para alunos com surdez. A unidade tem hoje 17 alunos matriculados.
Um deles representa um dos maiores desafios para os profissionais da rede municipal envolvidos neste processo. Luís Gustavo Silva Sousa tem 12 anos e está no quinto ano. Ele é surdocego congênito, ou seja, tem essa condição desde o nascimento. O trabalho consiste não apenas no letramento na Língua Brasileira de Sinais (Libras), mas em lhe apresentar o mundo exterior, mesmo que ele não possa ver e escutar.
Para a professora da Sala de AEE para Surdos, Milânia Bonfim, o primeiro desafio é entender quem é Luís Gustavo, procurando conhecer o que ele gosta e o que lhe deixa chateado. Milânia explica que o trabalho realizado com ele é basicamente todo tátil. “Por meio das mãos, ele percebe o mundo. Então, ele reconhece a sala, os colegas da sala de aula, a professora, as pessoas que estão sempre em contato com ele, o reconhecimento é desta forma, tocando. A mão dele é como se tivesse substituindo os olhos, o ouvido e até a boca”. Este foi um dos primeiros desafios a serem vencidos, porque quando ele chegou na escola não gostava de tocar nada. Então, começamos aos poucos, e fomos apresentando algumas coisas”.
Sobre o letramento, Milânia esclarece que a prática é chamada de Libras Tátil. “Também é um trabalho de estímulo. Ele tem gostado muito do reconhecimento das letras. Ele aponta a parte do corpo dele para digitarmos o nome e assim por diante. Todos os materiais dele têm que ser em alto relevo. Além destes processos de tocar, você pode estar falando e ele sente a vibração da voz também. Então tem várias técnicas que utilizamos para apresentar a Libras Tátil. Repetição e material concreto são fundamentais no letramento”, explicou.
A guia Intérprete de Libras de Luís Gustavo, Célia Monteiro Freitas, é quem o acompanha na escola. Segundo ela, essa é a primeira vez que trabalha com alguém surdocego, mas conseguiu se adaptar porque conhece a Libras, e é mãe de duas filhas surdas. Ainda assim, lembra que no começo foi difícil trabalhar com Luís Gustavo. “Pensei em desistir. Não tinha conhecimento, não sabia como me aproximar, e também houve uma rejeição por parte dele”. Ela conta que uma pessoa surda chamou a atenção para a responsabilidade que ela tinha. “Parei o semestre da minha faculdade, comecei a estudar e aprender sobre a deficiência dele para depois conseguir o que eu tenho hoje com ele, a intimidade, a proximidade e a confiança”.
Célia deixa uma mensagem aos pais. “Não desistam dos seus filhos. Acredite na Libras. É uma língua e através dela o seu filho pode expressar todo e qualquer sentimento, toda e qualquer situação que ele puder falar através da Libras. Muitas vezes, as famílias acham difícil, mas difícil mesmo é você não fazer e não tentar tudo. Enfrente. A família vai ter sim suas limitações. Estou vivendo o impossível e sei que ele vai evoluir”, afirmou.
Setembro Verde e Azul
O mês de setembro é considerado um dos mais importantes quando se trata de inclusão. O verde, pois, no dia 21, quando se comemora o Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência, também é Dia da Árvore. A outra cor é azul, que valoriza a comunidade surda. Dia 01 é o aniversário da lei que regulamenta o exercício da profissão de Tradutor e Intérprete de Libras. 23 de setembro é o Dia Internacional das Línguas de Sinais. Já o Dia Nacional dos Surdos é celebrado em 26 de setembro. E o dia Internacional do Surdo e do Tradutor/Intérprete é 30 de setembro.