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ARTIGO: A LINGUAGEM COMO INSTRUMENTO E EXPRESSÃO DE PODER

Por Thalana Piaggio

 “…Foi há muito tempo…
A vida não me chegava pelos jornais nem pelos livros
Vinha da boca do povo na língua errada do povo
Língua certa do povo
Porque ele é que fala gostoso o português do Brasil…” (BANDEIRA, MANUEL. Testamento de Pasárgada, organização e estudos críticos de Ivan Junqueira. São Paulo: Editora Global, 2014)

Bom ou mal por natureza, o Homem é um ser sociável. Se a felicidade existe, creio eu que nenhum Homem poderá alcançá-la sozinho. Nós, os chamados animais racionais, sentimos necessidade de nos relacionarmos com os outros e, para conseguirmos nos comunicarmos, precisamos de um código. Este código é o que chamamos de linguagem. Palavras escritas, faladas ou cantadas, gestos, pinturas, e tantas outras formas de linguagem são usadas pelo Homem como forma de se chegar ao outro. Mas, a linguagem não é tão somente uma ponte entre os homens. É, também, um instrumento, uma expressão de poder.

Na verdade, a linguagem não é, em sua natureza genuína, um instrumento e tampouco uma expressão de poder, mas é usada pelo homem como tal. Aliás, o homem tem essa mania chata de transformar tudo em um meio, em um instrumento de se obter, de se conquistar, de se manter o poder. Porque, para o bicho homem, dominar é mais que importante, é uma necessidade. E só domina quem detém o poder. E como podemos ver na linguagem este instrumento de poder? Bem, para esclarecer esta pergunta é necessário que se encontre a resposta de outra: Para que serve, qual a função da linguagem? Ora, a linguagem serve para que se haja uma comunicação entre os indivíduos.

Esclareçamos. A linguagem existe para que os homens possam se compreender mutuamente, entendendo o que outro anseia, o que o outro deseja, o que o outro quer dizer e, ao mesmo tempo, revelando as nossas aspirações. Assim, gestos, palavras, desenhos, tudo que nos faça compreensível perante os demais é linguagem.

Destarte, se a linguagem possui a função de manter uma comunicação, não há razão para desprestigiar qualquer de suas formas quando estas cumprem a missão de transmitir, de repassar uma informação. Mas, não é isso que observamos dentro da nossa sociedade. Nossa linguagem é fracionada entre língua certa e línguas que se afastam da correta. Temos a língua culta e as outras línguas. Por que uma dada maneira de falar, de escrever, deve ser tida como a certa? Não, não existe jeito certo de falar ou de escrever. Existe uma forma de linguagem padrão que nos é imposta por uma classe dominante.

A língua culta é a expressão, a forma de comunicação cujos detentores são os mesmos que detém o poder socioeconômico, e que é imposta aos demais indivíduos. E, é desta forma que todos aqueles que não se adaptam, que não se adéquam à língua da classe dominante são estigmatizados e tidos como ignorantes, são os chamados “burros”. Mas, a verdade é que, os mesmos que são excluídos do domínio econômico, são impossibilitados de dominarem a linguagem culta e, se quiserem ser integrantes do grupo padrão terão que, a muito custo, a muito esforço, lutar para quem sabe ter uma chance de se integrar aos detentores da língua certa.

Toda linguagem, toda língua é válida na medida em que estabelece uma comunicação e isso é o bastante. Não há que se falar em língua certa e língua errada. Toda língua que consegue estabelecer trocas de informações entre os homens é uma forma de linguagem, não certa, não errada, mas que cumpre sua função e que deve ser respeitada.