Desalento no mercado de trabalho é maior entre os nordestinos

Mais da metade das pessoas (54,3%) que desistiram de procurar emprego são mulheres e quase 70% não são chefes de família
O Nordeste é a região com o maior número de pessoas que desistiram de procurar emprego. Segundo levantamento do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), os nordestinos são 60% dos desalentados do país.
“Essa elevada parcela em relação às demais regiões do Brasil reflete as próprias características do mercado de trabalho nordestino, marcado pela mais alta taxa de desemprego, maior parcela de informalidade, menor taxa de participação, além de salários reais mais baixos. Por fim, o desalento é ligeiramente maior entre as mulheres”, diz o documento.
Outra constatação é que o desalento é proporcionalmente mais alto entre os trabalhadores que possuem maior dificuldade de inserção no mercado de trabalho, ou seja, jovens, pouco escolarizados, mulheres, e não chefes de família.
Mais da metade das pessoas (54,3%) que desistiram de procurar emprego são mulheres e quase 70% não são chefes de família. Os dados são referentes ao segundo trimestre deste ano. Em todo o país, quase 5 milhões de brasileiros deixaram de procurar trabalho, mais de 200 mil comparado ao trimestre anterior.
Entre aqueles que não completaram o ensino fundamental, o desalento é maior, somando metade dos desalentados no país. Os trabalhadores com ensino médio completo somam 22,8%. O desalento também é grande entre os brasileiros com nível superior. A taxa aumentou de 4,8% para 5,3% entre o 2º trimestre de 2017 e o 2º trimestre de 2018.
Na opinião do José Augusto Minarelli, CEO da Lens&Minarelli, o desalento ocorre pela falta de resultado na procura de trabalho. “Existem dois fatores que levam a esse cenário. Um deles está relacionado à economia do Brasil e o longo período de crise que fez com que as organizações encolhessem e deixassem de contratar. Hoje não existe emprego pra todo mundo. Outra razão é a forma como a pessoa demitida procura emprego. É preciso se posicionar da maneira correta e utilizar técnicas que funcionem. As pessoas que estão contratando analisam o candidato do jeito que ele se apresenta e fala, e isso pode ser determinante na hora de ter êxito”, comenta.
A explicação para o aumento da proporção da população classificada pelo IBGE como desalentada na economia não se restringe apenas à elevação do tempo de permanência no desemprego. Entre o último trimestre de 2015 e o primeiro trimestre de 2016, pouco mais de 14% dos que transitavam para a inatividade e se declaravam desalentados eram provenientes do desemprego.
Já no segundo trimestre de 2018, essa proporção atingiu 22%, indicando que a permanência no desemprego por um período grande, associada a uma taxa de desocupação elevada na economia, fez com que uma parcela cada vez maior dos desocupados desistisse de procurar emprego, embora tivesse vontade de trabalhar.
“Para os que queiram se reposicionar no mercado e tem vontade de trabalhar, a dica é: procure trabalho com sua bagagem e experiência, oferecendo sua capacidade profissional como alguém capaz de fazer algo que o outro precise”, recomenda Minarelli. //A Tarde