Saúde

Quatro brasileiros estão a bordo de cruzeiro com passageiros infectados por coronavírus

A companhia Holland America, proprietária do navio Zaandam, revelou ontem que há quatro passageiros brasileiros a bordo do navio Zaandam, que deixou Buenos Aires no dia 7 de março, com destino a Fort Lauderdale, na Flórida. Quatro pessoas morreram, por causas ainda não reveladas, e dois têm diagnóstico positivo para Covid-19. Além disso, mais de 130 relataram sintomas de gripe ou problemas respiratórios.

A identidade e o estado de saúde dos brasileiros não foram informados pela Holland America. Segundo a companhia, as informações de seus clientes são “protegidas pelos regulamentos de privacidade”. Procurado pelo GLOBO, o Itamaraty não quis se manifestar.

Autoridades portuárias de diversas localidades da costa pacífica da América do Sul não autorizaram a atracação do navio, diante do temor de disseminação do coronavírus em seus territórios. A embarcação está presa no Oceano Pacífico desde o último dia 14.

Inicialmente, o governo panamenho repetiu o gesto e bloqueou a passagem do Zaandam pelo Canal do Panamá, que liga os oceanos Pacífico e Atlântico. Ontem, porém, permitiu o acesso do transatlântico à hidrovia, justificando seu novo posicionamento como uma “ajuda humanitária”. Os passageiros, no entanto, estão impedidos de pisar em solo panamenho. A cautela vem dos elevados casos de coronavírus no país — até ontem, eram 901 ocorrências confirmadas, além de 17 mortes.

A Holland America, então, enviou ao Canal do Panamá a embarcação Rotterdam, que zarpou da Califórnia levando alimentos, equipe médica, kits de testes e remédios. Além disso, ela receberá os passageiros cujo exame para Covid-19 der resultado negativo. Até a tarde de ontem, cerca de 400 pessoas foram autorizadas a deixaro Zaandam.

Os turistas, porém, criticam a vagarosidade da operação. O translado entre navios é feito em botes com capacidade para cem pessoas, mas apenas metade pode embarcar por vez. A prioridade é de idosos acima de 70 anos e que ocupavam cabines internas, segundo comunicado da Holland America.

— É como esvaziar uma banheira com uma colher de chá — comparou uma turista francesa, em entrevista à AFP.

O roteiro do Zaandam previa sua chegada em San Antonio, próximo de Santiago, no dia 14, ou seja, uma semana após o início da viagem. No entanto, durante a passagem pela Patagônia chilena, 42 pessoas estavam sofrendo sintomas semelhantes aos da gripe. O transatlântico, por isso, passou a ser rejeitado em diversos portos. Hoje, mais de 130 passageiros e tripulantes estão doentes. Os turistas receberam máscaras de proteção e foram instruídos a permanecer em suas cabines.

— É muito difícil manter a saúde mental a bordo do navio — disse à AFP o passageiro argentino Dante Leguizamon, em um vídeo gravado na cabine em que está confinado por seis dias. — Estou em um barco do qual não consigo desembarcar, com pacientes com coronavírus, com quatro mortos, indo para Miami, cheio de incertezas, sem dinheiro e sem saber se há um avião de volta à minha terra natal.

Anúncios frustrantes

O inglês Neil Bedford acompanha à distância a rotina dos pais, Kim e Chris Bedford, ambos de 60 anos, que estão presos no transatlântico.

— As refeições são entregues nas cabines três vezes durante o dia. O capitão está fazendo anúncios diários, mas todos parecem frustrados, porque são sempre más notícias — contou à agência AP.

A indefinição sobre os rumos do Zaandam e a agonia dos passageiros lembra o drama vivido em fevereiro pelo cruzeiro Diamond Princess, que ficou em quarentena na costa japonesa, próximo a Yokohama. Das 3.711 pessoas que estavam a bordo, mais de 630 foram infectadas por coronavírus e pelo menos sete morreram. Funcionários do centro comercial e do cassino da embarcação, entre eles dois brasileiros, foram desviados para funções como vigiar os corredores das cabines, impedindo que os turistas passeassem durante a madrugada.

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