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PMs teriam participado de agressões a trabalhadores resgatados de vinícolas

A rotina de violência no alojamento, onde ficam os trabalhadores de três vinícolas de Bento Gonçalves, na Serra Gaúcha, foi denunciada ao Ministério Público do Trabalho. Ao todo, 207 pessoas foram libertadas, na semana passada, após serem encontradas em situação análoga à escravidão.

Em um dos depoimentos, o trabalhador conta que foi trancado no quarto por capangas e espancado. Os agressores usaram spray de pimenta nele, deram gravata no pescoço, pancadas com cabo de vassoura, mordida no ombro, cadeiradas, socos na face e choque.

Em outro relato, a vítima revela que os capangas chamavam os trabalhadores de “demônio” e diziam que “baiano bom é baiano morto”. O homem diz ainda que alguns dos trabalhadores eram acordados com choques de taser.

Uma terceira vítima afirma ter presenciado o espancamento de três colegas por dois seguranças, e que um dos agressores dizia que era policial e que andava armado, a todo momento. Ele também conta ter ouvido os colegas serem ameaçados de morte.

Segundo o gerente regional do Ministério do Trabalho, Vânius Corte, foram encontrados, no alojamento: cassetete, spray de pimenta e aparelho de choque.

“Os trabalhadores relataram que eram agredidos e ameaçados por seguranças daquele local. E que esses seguranças, supostamente, pertencem a algum quadro da polícia. A gente não tem essa informação, se isso realmente é real ou não, ou se essas pessoas utilizavam isso como uma forma de intimidação desses trabalhadores”, afirma Vânius Corte.

O dono da empresa que terceirizava o serviço da colheita de uva, Pedro Augusto Santana, foi preso no dia da operação e depois solto, após pagar fiança. As vítimas já voltaram para a Bahia e receberam as verbas rescisórias.

A Corregedoria da Polícia Militar do Rio Grande do Sul abriu uma investigação para apurar as denúncias, e solicitou à Polícia Federal o compartilhamento de provas, caso haja envolvimento de PMs no caso.

Em uma reunião emergencial, o Governo gaúcho anunciou a criação de uma força-tarefa para coibir o trabalho análogo à escravidão. “Nós não vamos permitir que alguns, que façam errado, manchem a reputação da imensa maioria, que faz a coisa certa. Por isso, vamos fiscalizar e punir que faça algo de errado”, declarou o governador do RS, Eduardo Leite.

Depois de ouvir o empresário autuado, o Ministério Público do Trabalho deve discutir com as três vinícolas a responsabilidade de quem terceiriza a mão de obra.

“Vamos realizar audiências com elas, para que a gente possa estabelecer protocolos, um compromisso para que, em próximas ocasiões, seja feita uma fiscalização da cadeia produtiva de forma mais efetiva, para que não volte a ocorrer situações como essa”, informou a procuradora do Trabalho, Ana Lúcia González.

Nesta 3ª feira (28.fev), um vereador de Caxias do Sul fez um discurso em que ofendeu os trabalhadores baianos e aconselhou os produtores a só contratarem argentinos.

“[Argentinos] São limpos, trabalhadores, corretos, cumprem horário, mantém a casa limpa e, no dia de ir embora, ainda agradecem o patrão pelo serviço prestado e pelo dinheiro que receberam. Agora, com os baianos, que a única cultura que eles têm é viver na praia, tocando tambor, era normal que se fosse ter esse tipo de problema. Quero dizer, deixem de lado, que isso sirva de lição. Deixe de lado aquele povo, que é acostumado com carnaval e festa, para vocês não se incomodarem novamente”, diz o vereador Sandro Fantinel, do Patriota. Após a repercussão negativa, o vereador se desculpou e disse que é contra o trabalho escravo.

A ApexBrasil, Agência de Promoção de Exportações, suspendeu a participação das vinícolas Garibaldi, Salton e Aurora das feiras internacionais, missões comerciais e eventos promocionais até que as investigações sejam concluídas.