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‘O rei leão’ estreia com visual deslumbrante; entenda a tecnologia por trás do filme

‘O rei leão’ estreou nesta quinta-feira Foto: Divulgação/Disney

RIO e NOVA YORK — Sabe quando você vê um filme tão realista que se pega pensando como foi produzido? É muito provável que “O rei leão” cause essa sensação. Isso porque o longa de Jon Favreau, que estreia hoje no Brasil em cerca de 1,9 mil salas, usa técnicas inéditas de efeitos visuais — que devem influenciar a maneira de se fazer cinema daqui para a frente

O diretor, o mesmo de “Homem de Ferro” 1 e 2 (2008 e 2010) e “Mogli, o menino lobo” (2016), quis recriar a África de forma tão perfeita a ponto de ser difícil perceber que os cenários são, na verdade, totalmente feitos em computadores.

— A história é a mesma. Mas, se você viu o filme original (de 1994), verá que este tem uma experiência visual mais intensa — apostou o ator Donald Glover, que dá voz ao Simba adulto, em uma rodada de entrevistas em Nova York.

Os críticos foram praticamente unânimes: a versão de 2019 é mesmo deslumbrante e realista. O problema é que isso também pode ter um lado ruim. Segundo boa parte deles, falta emoção ao remake.

Lembra do expressionismo colorido da sequência musical de “Hakuna Matata”? Ou das dancinhas de “O que eu quero mais é ser rei” (“I just can’t wait to be king”, no original), inspiradas nas coreografias de Busby Berkeley? Esqueça. Dessa vez, tudo foi criado para parecer a vida real.

Para atingir esse objetivo, a produção primeiro fotografou, in loco, a fauna e flora do continente. Com o material em mãos, estudou cada movimento e contração de músculo de girafas, leões, pássaros e hienas. E reproduziu tudo digitalmente.

Depois, colocou óculos de realidade virtual (VR) nos atores e na equipe, que se viam em savanas e até na Pedra do Rei — o penhasco onde Simba bebê é apresentado aos súditos pela primeira vez, na icônica cena de abertura do “Ciclo sem fim” (“Circle of life”). É como se eles estivessem num videogame desenvolvido para simular a experiência de viver dentro do próprio universo de “O rei leão”, só que num estúdio em Los Angeles.

Lá, eles filmaram as cenas de forma semelhante a uma produção tradicional. Ou seja, em vez de ficarem enfurnados numa cabine de som dublando os personagens, os atores (inclusive Beyoncé, intérprete de Nala, namorada de Simba) interagiram em carne e osso. Isso lhes permitiu, por exemplo, improvisar falas. O formato também ajudou a equipe técnica, que pôde fazer ajustes de iluminação conforme a ação se desenrolava no set. Por fim, as performances foram adaptadas às feições dos leões (e outros bichos) no processo de pós-produção.

É animação ou não é?

É por isso que não tem fim o debate sobre “O rei leão” ser live action ou animação. Em entrevistas, nem Favreau dá a resposta. A obra, afinal, utiliza técnicas de ambos os gêneros. Convencionou-se, assim, usar a expressão “animação fotorrealista”.

Visual parecido foi visto em “Mogli, o menino lobo”, mas naquela época ainda não havia VR por trás. A tecnologia também vai além do recurso (à época pioneiro) de “Avatar” (2009), de James Cameron, no qual os atores trabalharam em cenários digitais usando roupas especiais de captura de movimento.

Fora essa inovação, todo o resto do filme é um grande apelo à nostalgia dos aficionados pela história — que inclusive está há 22 anos em cartaz na Broadway. As canções e a trilha sonora, mais uma vez composta por Hans Zimmer, têm arranjos parecidos com as originais. Destaque para o clássico “Can you feel the love tonight”, dueto de Simba e Nala escrito por Elton John.

— Eu não estava certo do que fazer musicalmente até que ouvi Beyoncé cantando — diz Glover, rapper que atende pela alcunha de Childish Gambino, conhecido pelo videoclipe “This is America”. — Pensei: “As pessoas vão querer ouvi-la”. Então resolvi adaptar meu estilo àquilo que as pessoas estavam querendo ouvir.

O artista conta que estava na terceira série quando viu o trailer de “O rei leão” no cinema. E ficou impactado:

— Aquilo mudou a minha vida. Nunca tinha visto um trailer sem uma palavra sequer. Ir ao cinema deveria ser sempre um evento. Acho que é por isso que estamos vivendo essa era de ouro da televisão, na qual você não sabe o que vai acontecer a seguir, já que os produtores ainda estão escrevendo a história. E isso que o trailer da animação tinha. Sem uma palavra, eles levantam o pequeno Simba, e é isso. Havia tanto mistério, mas ao mesmo tempo parecia algo tão importante!

Sucesso na China

E assim, resgatando o sentimento de nostalgia, “O rei leão” deve se tornar mais um remake da Disney a abocanhar uma fortuna nas bilheterias. Analistas preveem arrecadação de US$ 150 milhões nos EUA só no primeiro fim de semana — e até US$ 450 milhões em todo o mundo. Só na China, onde está em cartaz, já lucrou mais de US$ 55 milhões. Afora a franquia “Piratas do Caribe”, só três títulos live action do estúdio abriram com mais de US$ 100 milhões nos EUA: “A bela e a fera”, de 2017 (174 milhões); “Mogli” (103); e “Alice no país das maravilhas”, de 2010 (116).

Vida longa ao rei.

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