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Política

“Guilherme já foi bom pra Conquista, hoje não é mais”, afirma Fabrício

“Ninguém jamais poderá dizer que o Dr. Guilherme é ladrão, porque não é; que é um picareta, que não é. Acho que a condução da política dele é arcaica e atrasada”

“Ninguém jamais poderá dizer que o Dr. Guilherme é ladrão, porque não é; que é um picareta, que não é. Acho que a condução da política dele é arcaica e atrasada”

BLOG DO FÁBIO SENA

O Partido Comunista do Brasil|PCdoB de Vitória da Conquista – ou ao menos a nova geração de comunistas, liderada pelo deputado estadual Fabrício Falcão – articula-se diariamente para quebrar o monopólio do Partido dos Trabalhadores que, há duas décadas, capitaneia a Frente Conquista Popular sem dar quaisquer sinais de promover o tão propalado rodízio no comando do principal instrumento de poder da trupe: o governo municipal.

A construção de uma candidatura comunista nas eleições de 2012, com Fabrício na cabeça-de-chapa, naufragou em virtude de costuras políticas eivadas de conveniências eleitorais exógenas, a mais fundamental entre todas a que envolvia a cidade de Juazeiro, imponente reduto eleitoral comunista objeto de uma árida disputa cujo resultado foi a supressão da candidatura do petista Joseph Bandeira, derrubada na Justiça pelo próprio diretório estadual de seu partido, com o apoio do PT ao candidato comunista, Isaac Carvalho.

Como retribuição compulsória, a direção estadual do PCdoB limou a candidatura de Fabrício que, embora carpindo, disciplinou-se e deu sustentação à candidatura petista em Vitória da Conquista, permitindo que o mapa eleitoral traçado nas esferas superiores fosse respeitado, embora dolorosamente. No entanto, a entrevista concedida com exclusividade ao Blog do Fábio Sena, e cuja íntegra segue logo abaixo, mostra que o divórcio político entre petistas e comunistas migrou para uma fase sem volta.

Fabrício, com sua característica mais peculiar – a eloquência – assume, nesta conversa, uma postura indiscutivelmente bélica contra o PT, para ele um partido concentrador de poder. Também não mede esforços em apontar os defeitos – e alguma virtudes – do prefeito Guilherme Menezes, sobre quem reafirma seu mantra predileto: “Não é meu amigo nem eu sou amigo dele”. O comunista valoriza aspectos da conduta do prefeito, como a honestidade, mas contesta a forma “arcaica e atrasada” como ele conduz politicamente a Frente Conquista Popular. “Ele governa a cidade e governa o projeto político como se fosse a casa dele”.

Segue abaixo a íntegra da entrevista:

FÁBIO SENA: Fabrício, reeleito deputado, tendo à frente mais quatro anos de atuação parlamentar, o que pode diferenciar o mandado vindouro do atual?

FABRÍCIO FALCÃO: Fábio, eu tenho uma grande crítica dos parlamentos municipais e estaduais. Fui vereador e sou deputado estadual, e acho que ambas são duas instâncias do Poder Legislativo que não valem muita coisa. A Constituição de 1988 torou muito poder dos deputados estaduais e vereadores. O vereador não faz coisa nenhuma e o deputado estadual quase nada. Infelizmente, todas as grandes ações do legislativo estão no âmbito federal; os códigos, sejam penais, de defesa do consumidor, está tudo nas mãos do legislativo federal. Então, nós fazemos muito pouco pelo Brasil. É uma deformação. Em países mais avançados, como França, Inglaterra e Estados Unidos, os parlamentos locais, inclusive os vereadores, eles têm mais poder, às vezes, que os legisladores federais. Aqui existe uma deturpação. Veja: hoje, Fábio, nós estamos passando por um problema que é o seguinte: 17% dos municípios brasileiros não conseguem pagar o décimo terceiro salário, porque não tem dinheiro. Existe uma concentração absurda de poder nas mãos do presidente da República. Os governadores quase sem nada e os prefeitos passando fome, sem condições de pagar suas contas. Se fala da crise do Mensalão, esse absurdo que é a corrupção da Petrobras, para mim o mais grave caso de corrupção do período democrático recente, que se tem que mudar o sistema, mas nós temos que mudar, Fábio, os valores da sociedade, o caráter, a moral, claro que tudo para fazer uma reforma tributária, uma reforma do legislativo.

FÁBIO SENA: Ou seja, uma reformulação profunda de todo o sistema…

FABRÍCIO FALCÃO: Sim… Que até hoje foi bom, pois qualquer coisa foi melhor para sair do processo da ditadura militar, mas pós-ditadura, com o sistema democrático consolidado, existem coisas que precisam passar por mudanças emergenciais. Ainda há muito a avançar. Eu, por exemplo, seis anos atrás, quando Lula estava no meio do segundo mandato, militantes do PT, do PCdoB falavam em um terceiro mandato para Lula e eu fui contra. Não podemos perpetuar figuras de mito, porque os mitos levam a ditaduras.

FÁBIO SENA: Que o diga a experiência do socialismo real no leste europeu.

FABRÍCIO: Pois é. O que ocorreu ali no leste europeu foi a deformação de você criar mitos, o sujeito entrava como dirigente do país e tinha que morrer porque nada poderia sobrepor. Então acho que precisamos ter uma revisão de concepção de sociedade, do que é o poder, para o que serve o poder. Eu vou iniciar em fevereiro o segundo mandato como deputado e acho que deputado não deveria ter o quarto mandato, nem o terceiro, porque fica uma coisa ruim.

FÁBIO SENA: Isso se aplica, claro, aos executivos também.

FABRÍCIO: Claro que sim. Acho que Guilherme Menezes já foi bom para Vitória da Conquista, hoje não é mais. Acho que Zé Raimundo já foi mas não vai ser bom de novo. O poder público não é propriedade privada.

FÁBIO SENA: E por falar em renovação, Fabrício, o seu partido vem buscando se reestruturar Brasil afora, lançando candidatos, vencendo em importantes cidades, ganhou o Maranhão com Flávio Dino. Já há uma diretriz nacional no sentido de serem lançadas candidaturas em cidades médias. Vai haver, de fato, o PCdoB na disputa em 2016 em Vitória da Conquista?

FABRÍCIO FALCÃO: Fábio, existe uma diretriz que em toda cidade com mais de 100 mil habitantes o PCdoB vai ter candidato a prefeito. Eu acho inclusive que o PCdoB não pode viver a vida inteira como partido aliado do PT, aliado até que sim, mas nós sendo artífices, ator principal e não só coadjuvante. O PCdoB disputou o Maranhão contra o PT e o PMDB e perdemos; disputamos novamente contra o PT e o PMDB e ganhamos agora. Ganhamos Contagem, o município mais importante de Minas Gerais depois de Belo Horizonte; ganhamos disputando contra o PT. Jundiaí, uma cidade de intelectuais, ganhamos contra o PT. O PCdoB não pode viver à sombra do PT.

FÁBIO SENA: É voz corrente nos comunistas conquistenses a falta de reciprocidade dos petistas locais com o PCdoB.

FABRÍCIO: E tem razão. Acho que o PT de Conquista deve muito ao PCdoB. Desde 1992 estivemos juntos, 1996, quando ganhamos, até hoje. Mas o PT, não só com Guilherme, mas também com Zé Raimundo, nunca deu valor ao PCdoB, o partido mais longevo da aliança. Nunca teve o respeito de ter sequer a presidência da Câmara ou a vice-prefeitura. Acho que nós devemos buscar nesse momento a independência e também mostrar que temos quadros políticos para dirigir a cidade. Não somos “esmolés” que estão pedindo emprego. Eu sou professor do Estado, Elias, Miguel. Estamos mostrando que temos quadros políticos que podem dirigir um projeto político, dirigir uma sociedade da importância de Vitória da Conquista, mostrar que podemos fazer igual ou melhor.

FÁBIO SENA: Significa governar inclusive com dirigentes petistas…

FABRÍCIO: Você acha, Fábio, que se eu ganhar a Prefeitura de Vitória da Conquista em 2016 eu vou prescindir de quadros do PT em minha administração? Claro que não! Não é um governo de ruptura. É um governo de conciliação e eu quero buscar o que tem de melhor em qualquer partido. É uma burrice essa segregação. Temos gente boa em todos os espaços.

FÁBIO SENA: Nessa concepção de candidatura própria, o PCdoB consegue construir um arco de aliança dentro da própria Frente Conquista Popular ou teria, ainda, que elastecer essa relação para partidos historicamente considerados conservadores?

FABRÍCIO: O PCdoB sempre foi a favor de composições. Se você lembrar, em 1992, 1996, o PSB estava na oposição e o PCdoB tinha condição de ter a vice-prefeitura e cedeu ao PSDB de Clóvis Assis, para ganhar, porque o nosso projeto não era uma mera disputa eleitoral, era disputa de poder. Então, nós não temos problema. No Maranhão, agora, ganhamos com o PSDB na vice e o DEM na coligação. Não temos nada contra isso. O PCdoB não é um partido sectário. Nós somos um partido de quadros, de grandes intelectuais que pensam o Brasil, que pensam a Bahia e Conquista como projeto maior. Não somos mesquinhos, não pensamos em umbigo, pensamos em projeto que tenha melhor impacto na sociedade. Então, nós, diante da estreiteza política do atual gestor, temos com certeza o melhor projeto para a cidade, mostramos isso na eleição da Câmara agora.

FÁBIO SENA: Já que você lembrou da eleição da Câmara, como você avaliou esse processo, de certa forma traumático, que resultou na vitória de Gilzete por força de uma articulação do PCdoB?

FABRÍCIO: Nós tivemos três bons candidatos, Gilzete, Andreson e Irma Lemos. Na minha avaliação, Irma Lemos é o que pode ter de melhor em termos de caráter, se seriedade, sou apaixonado por ela; acho Gilzete uma pessoa séria, coerente, está no projeto há muito tempo, foi vice-prefeito de Zé Raimundo; acho Dr. Andreson, presidente de nosso partido, o melhor nome dos três, mas Andreson teve a sobriedade de tirar seu nome, buscando uma aliança de consenso. O consenso foi Gilzete. Irma seria uma grande presidente, mas Gilzete mostrou a independência do Legislativo do Executivo. Não podemos amordaçar um poder frente a outro; temos que respeitar inclusive o que reza a Constituição sobre harmonia e independência. Acho que será uma Câmara da responsabilidade, da ética e do respeito.

FÁBIO SENA: Fabrício, você falou logo atrás do que você chama de estreiteza política do prefeito Guilherme. Na sua avaliação tem havido uma asfixia política em Vitória da Conquista decorrente desta situação?

FABRÍCIO: Eu acho que sim. Eu acho o prefeito, Dr. Guilherme, que não é meu amigo nem eu sou dele, um dos homens mais sérios da política baiana e, quiçá, do Brasil. Ninguém jamais poderá dizer que o Dr. Guilherme é ladrão, porque não é; que é um picareta, que não é. Acho que a condução da política dele é arcaica e atrasada. Ele governa a cidade e governa o projeto político como se fosse a casa dele. Mas é um homem de bem, já levantei muita bandeira pra ele, já colei cartazes, mas acho que Vitória da Conquista não tem mais como ser administrada por uma figura que pensa como ele.

FÁBIO SENA: O governador eleito Rui concluiu esta semana a composição de seu secretariado. Qual a sua perspectiva em relação ao governo dele?

FABRÍCIO: Acho que Rui será um gestor mais competente que Wagner. Enquanto Wagner foi um grande político, talvez o maior articulador político da história da Bahia, o Rui era o técnico dele, um homem que conhece a máquina como ninguém. Tomara que ele não seja essencialmente petista, porque o PT quando está no poder acha que o governo é só ele. Rui tem um excesso de secretarias e ele fala: ‘essa é do PT, essa é minha’. Isso, pra mim, é balela, porque o secretariado que o governador Rui Costa fala que é dele é do PT, porque Rui não é do PCdoB, ele é do PT, então o PT tem um nível de concentração de poder muito grande. E acho que tem que ter mais respeito pelos demais partidos. Mas é um homem íntegro e será considerado o melhor governador de todos os tempos.

FÁBIO SENA: E a presidência da Assembleia… Quem terá seu apoio?

FABRÍCIO: Eu não sei quem vai por Rui Costa. Pode ser Rosemberg (Pinto), mas eu não apoio. Pode ser do PT, que eu não apoio. Eu não apoio o PT na Assembleia. O meu candidato e o do PCdoB é Marcelo Nilo, um homem de bem, homem acessível, e lutarei até o dia 2 de fevereiro para eleger Marcelo Nilo. E ele ganhará. Modéstia à parte, sou um bom articulador e estarei ao lado dele articulando cada voto.