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Bahia registra 576 casos de estupro em três meses

No último dia 24, uma mulher foi estuprada em Barra do Choça supostamente por quatro indivíduos

No último dia 24, uma mulher foi estuprada em Barra do Choça supostamente por quatro indivíduos, quando saia de 

Nos três primeiros meses deste ano, a Bahia contabilizou 576 casos de estupro. Destes, 110 ocorreram na capital baiana.  O caso da mulher de 32 anos que afirmou ter sido violentada por quatro homens na cidade de Barra do Choça, no sudoeste baiano, na madrugada da última sexta-feira, 24, foi mais um a entrar para as estatísticas registradas no estado.

No ano passado, 2.549 ocorrências foram registradas na Bahia. Salvador teve 531 casos, e os municípios de Feira de Santana (154), Ilhéus (76) e Porto Seguro (67) foram os que mais tiveram registros.

Para conter a violência, algumas políticas públicas têm sido adotadas. A Casa de Acolhimento à Mulher Irmã Dulce abriga, por até 15 dias, mulheres ameaçadas, bem como os filhos pequenos. O espaço foi inaugurado no último dia 16, pela prefeitura de Salvador, por meio da Superintendência de Políticas para as Mulheres (SPM).

A instituição não tem o endereço divulgado para garantir a segurança de vítimas e funcionários. Possui 595 m², com capacidade para atender 30 pessoas em cinco quartos, com três beliches e berços, três banheiros, brinquedoteca, sala de leitura e TV, sala para atividades laborais, horta e parquinho.

Uma equipe multidisciplinar de enfermeiras, assistentes sociais, advogados, psicólogas trabalha em horário administrativo, e plantonistas atendem as mulheres.

A superintendente da SPM Salvador, Mônica Kalile, diz que há um planejamento, desde 2014, para dobrar a capacidade de atendimento. “Para 2017, vamos implantar mais dois centros de referência, no subúrbio e em Cajazeiras”, disse.

“Para vir para a casa, é preciso fazer o boletim de ocorrência (BO). Existe uma norma técnica de abrigamento.  O  tempo do acolhimento é para a saída do agressor do lar. Caso isso não aconteça, ela é transferida para casas de abrigo do estado e serviço de proteção a vítimas”, esclareceu a superintendente.

Na casa de acolhimento, quando a mulher chega machucada, recebe atendimento médico, acesso a remédios e vacinas. No tempo em que   fica afastada do ambiente escolar,  a   criança tem acompanhamento pedagógico. Além disso, busca-se localizar parentes, que, muitas vezes, desconhecem a situação da mulher agredida.

Ações estaduais

O projeto-piloto  Quem Ama Abraça – Fazendo Escola é uma das ações do Pacto de Enfrentamento à Violência contra as Mulheres. A campanha  foi trazida para a rede estadual de ensino fundamental pelas secretarias de Políticas para as Mulheres  e a da Educação do Estado da Bahia, com o apoio da Comissão de Direitos das Mulheres da Assembleia Legislativa (AL-BA).

São ações de conscientização para a desconstrução da visão da relação de gênero e do machismo enraizado. Os professores recebem um manual do projeto, e os alunos, um gibi sobre a lei Maria da Penha.

A  etapa-piloto foi concluída em 19 escolas de Salvador e região metropolitana, que envolveu diretamente 180 professores e 1.800 alunos. “Temos mais duas etapas, em que vamos atender 30 escolas e, depois, na outra fase, mais 27. A avaliação é positiva, pois provoca reflexão”, explicou a secretária estadual de Políticas para as Mulheres, Olívia Santana.

O contingenciamento de recursos para o orçamento de 2016 do governo estadual abrangeu a secretaria. “Temos buscado superar e atravessar essa crise de forma criativa para atender às políticas públicas exigidas pelas mulheres”, disse.

Uma mesa-redonda aberta ao público, com o tema Enfrentamento à Cultura do Estupro, foi realizada, na tarde desta terça, 28,  na sede da Escola Superior de Advocacia (ESA-BA), no Campo da Pólvora. O evento reuniu representantes do poder público e da sociedade civil.

“O enfrentamento à  cultura que coloca a mulher na condição de objeto sexual e de vítima precisa ser fortalecido”, explicou a advogada Lia Barroso, presidente da Comissão de Proteção aos Direitos da Mulher, da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), seção Bahia, organizadora do evento.

A coordenadora da Rede de Atenção à Violência Contra as Mulheres de Salvador, Sandra Muñoz,  defende que é preciso fazer a formação com toda a escola, do porteiro ao professor.

“As campanhas e as leis precisam ser monitoradas. As pessoas devem ser educadas para o não machismo”, ressaltou a ativista.

Fonte: A Tarde