– Nunca fui uma atriz que chegasse em casa e dissesse para minha família ‘Arrasei!’. Tem que ter autoestima, que dá um equilíbrio, mas também não pode deixar a insegurança e a insatisfação te boicotarem. Eu tenho essa crítica numa medida talvez exagerada e, até hoje, tenho dificuldade de me assistir. Sempre pergunto para meu filho: ‘Você viu? O que achou?’.
– Sempre foi assim? Nunca gostou de se assistir?
– Eu gostava muito de me assistir até uma determinada idade, de repente passei, além de criticar o meu trabalho, me criticar fisicamente. Hoje em dia, isso não existe, já está muito resolvido. Estou envelhecendo, não tenho mais a beleza da mocidade. Lembro do Miguel Falabella falando que ator não tem idade, tem encanto. O encanto não é mais físico, meu encanto agora pode vir por meio do meu trabalho. Eu não tenho mais essa expectativa. Uma ou outra vez, com uma boa luz, você dá uma boa imagem, gosta de se ver bem. Mas a expectativa agora é: o trabalho foi bom? A cena foi convincente? Esse é meu nível de exigência. Fisicamente já resolvi, aceito. Tem uma ruga aqui, um troço caído mole do outro lado, é assim, faz parte da vida. Contra o tempo não se pode fazer nada.
– Assim como você, a Frida, da novela, e a Zuleide, do filme, têm esse olhar carinhoso para a vida. É a melhor forma para se viver?
– É porque a gente quer muita coisa, mas a vida tem coisas boas para todo mundo. É só você prestar atenção que vai identificando. É aquele café gostoso, aquele telefonema do seu amigo, uma boa leitura, um seriado bacana. E fuja das coisas tóxicas, não deixe que nada aniquile, lese a sua vida. Essa vida é um presente que não pode ser desperdiçado. E mesmo quando as coisas não estão tão boas assim, de repente, percebo que aquela situação também era engraçada e dou gargalhadas sonoras, escandalosas. É o tal do pegar o limão e fazer uma limonada.
– Você aprendeu essa liçãocom a maturidade?
– Eu tenho pavor, horror de ficar triste, de coisas ou de pessoas que possam mobilizar o meu lado sombrio, o meu lado não bom, fujo como o diabo foge da cruz (risos). Não sou uma idiota que fica rindo à toa de tudo, claro, sou uma mulher sensível e atenta à vida. Eu sei o que há de bom e o que há de ruim neste mundo, só que procuro, para a minha vida, o que há de bom. ‘Ah, mas a profissão dela lhe permitiu…’, tudo bem, tenho conforto, me considero uma pessoa de sorte. Não tive muita sorte na vida amorosa, mas parece que Deus falou ‘vou te compensar com a sua profissão’ e está me compensando até hoje (risos).
– Sua personagem no filme está usando um aplicativo de relacionamento. Você desistiu de encontrar um amor?
– No momento, acho que eu encerrei, pendurei as minhas chuteiras (risos). Acho que nem tenho muito tempo para iniciar um encontro, para dar espaço para uma pessoa na minha vida. No momento, isso não faz parte do meu projeto de vida. Na verdade, eu não tenho projeto nenhum, vou vivendo (risos). Mas para a minha vida, no momento, isso não está me fazendo falta e nem faz parte dos meus planos. Mas quem estiver com a minha idade pode e tem todo o direito de namorar, de casar. Cada pessoa é uma pessoa, né? Às vezes, as necessidades da pessoa não são as mesmas que as minhas. Agora, a minha profissão me traz alegria, me coloca a vida em um lugar bacana. Eu tenho um espaço dentro da profissão que substitui. Como não tive sorte na vida romântica, essa busca não existe mais, essa busca agora é na minha profissão.
– Você disse que não tem planos, mas já a vi falando que quer desacelerar…
– Eu não tenho palavra como você pode ver, né? (risos) Sei lá, parece uma conjunção astral, mas eu tentei fugir, falei que tinha o filme, mas as produções estavam em contato e deu para eu fazer a novela e o filme ao mesmo tempo. Todo dia me levantava e pedia a Deus: ‘Me dê força e coragem para concluir esses trabalhos!’. Estou aqui, o filme estreou, a novela está no ar, valeu a pena. Estou feliz!
– E depois da novela você já tem um novo projeto no teatro. Desistiu de desacelerar?
– Depois eu gostaria muito disso. A idade me trouxe isso, gosto de ficar em casa. Era exatamente o contrário quando eu tinha bem menos idade. Chegava o final de semana, se o telefone não tocasse,
meu Deus, que rejeição é essa (risos)? Hoje, eu quero é que o telefone não toque. Adoro ficar em casa, lendo, vendo TV, ficar com os cachorros. Os cachorros são uma história séria para mim, eu não consigo viver sem eles. Acho que estou envelhecendo bem.
– Família é tudo?
– Não é tudo, mas é muito importante. Sou feliz com a minha! Fui mãe aos 17 anos, não acho que é a idade ideal, falta experiência de vida, estava ali tropeçando, errando, fazia não sei quantas garrafas de mingau porque não ferveu o necessário, joga fora, faz outra, era uma culpa porque eu desconhecia esse universo. Mas houve amor, que é o importante, e deu certo.
– E agora você será bisavó!
– Pois é, o Pedro vai me dar um bisneto, é um menino! Quando ele me disse: ‘Você vai ser bisa’, eu pensei: É a minha vida passando! Vem mais uma pessoa aí que pertence a mim, que vem carregando meus genes, meu nome, estou feliz, já sou bisa, isso não é para qualquer um!