POLITICA
AGASSIZ ALMEIDA: ARIANO SUASSUNA E A CONDIÇÃO HUMANA
Por
Bia em 12.08.2014 às 4:25
Agassiz Almeida, escritor, ativista dos direitos humanos*
Na história da humanidade, certos vultos se fizeram fenômenos e vararam a vida como verdadeiros meteoros, alguns iluminando o mundo com suas criações, obras e ações, e outros a desencadear tragédias. Ariano Suassuna veio para a vida não como um desafiador ou contestador, mas um criador de mundos de frenéticas construções utópicas onde ele próprio se transvestiu no personagem-mor de um teatrão mambembe.
Não soube odiar e nem amar, sonhou.
Geniais pensadores erigiram as suas obras com raízes fincadas na realidade, onde nela mergulharam, como Camões, Shakespeare, Victor Hugo, Leon Tolstoi, Romain Rolland, Dostoievski, Euclides da Cunha. Ariano Suassuna, não. Partiu do imaginário e nele fez desfilar os seus personagens. Lá estão eles, João Grilo, Chicó, Bispo, Pe. João, Vicentão, melancólicos, alegres, simplórios, tresloucados, quase todos fronteiriços à esquizofrenia. Na Ilíada, Homero parte de Ítaca para chegar ao universo fantasmagórico dos xiquexiques, macambiras e facheiros de Taperoá. No Auto da Compadecida, Ariano, com João Grilo e Pe. João se alçam a Cabaceiras e falam ao mundo.
No cenário das terras empedradas dos sertões nordestinos, Euclides da Cunha e Ariano Suassuna, gigantes da nossa literatura, confluíram e se contestaram, no imenso anfiteatro em que a realidade e o celestial se interagem. O ensaísta dos chapadões ressequidos de Canudos, no fanatismo místico de Antônio Conselheiro escancarou a selvagem distância abissal dos dois brasis: o dos oligarcas do café e do açúcar, e, contrastantemente, a assustadora miséria dos nordestinos condenados à ignorância e à fome.
E o dramaturgo paraibano como construiu a sua epopeia de risos? Antes de armar a sua tenda nas cortes angelicais, ele cavalgou no misticismo partindo dos rincões caririzeiros, e neles fez a sua Meca. (mais…)