POLITICA
Exumação de corpos no Cemitério do Kadija para abrir novas vagas é tema de matéria no Uol
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Bia em 20.06.2017 às 13:54

A superlotação acontece no Cemitério do Kadija
Por Mário Bittencourt/Uol
O anúncio da exumação de mais de 400 restos mortais de um cemitério em Vitória da Conquista (BA), a 509 km de Salvador, deixou a comunidade local –principalmente os católicos– revoltada.
A lista com os nomes dos mortos a serem removidos foi divulgada no mês passado pela prefeitura. As exumações devem começar em 19 de julho e vão transferir os restos mortais para um ossário, construído ao custo de mais de R$ 167 mil.
O motivo para a ação é a superlotação, já que quase não há mais lugar para cavar túmulos.
Em sua maioria, o cemitério abriga corpos de pessoas de baixa renda e, segundo a prefeitura, está com apenas 91 covas adultas disponíveis –54 covas para o sexo masculino e 37 para o feminino. A administração municipal afirma que “essas vagas atendem a necessidade do serviço por um período de, aproximadamente, 60 dias”.

O espaço existente é insuficiente para atender a demanda da cidade
A remoção está prevista no Código de Posturas do Município, entre as leis que regem a administração dos cemitérios públicos. O prazo previsto para um corpo ficar no cemitério é de quatro anos e oito meses. Como comparação, em Salvador, esse prazo é de três anos e seis meses, conforme as leis municipais da capital.
Mas coveiros entrevistados pelo UOL disseram que, devido ao número de enterros, de 3 a 4 por dia, o ossário com capacidade para 480 restos mortais não será suficiente para conter a superlotação. Eles estimam que o problema deve voltar a ocorrer em cinco meses.

Famílias conquistenses mantêm a tradição de construir e cuidar dos jazigos dos seus entes
Um abaixo-assinado contrário às exumações circula no bairro Kadija, periferia da cidade e onde está localizado o cemitério municipal. Boa parte dos signatários são ligados a Comunidade São Cristóvão, que faz parte da Igreja Rainha da Paz, localizada no bairro Patagônia, vizinho ao Kadija.
O padre Valmir Neves, que há sete anos realiza as celebrações em Dia de Finados na capela do cemitério, disse que as pessoas estão chocadas com o que vai acontecer.
“Para mim é uma novidade essa questão da exumação de corpos. Claro que a comunidade choca porque ela não tem nesse assunto uma posição contundente”, afirmou Neves.
A católica Denice Ferreira dos Santos, 49, cujo corpo do pai Carlindo Lima dos Santos, está entre os que serão exumados, disse ser contra a retirada dos restos mortais.
“Não quero de jeito nenhum que os ossos do meu pai sejam tirados daquele lugar. Pago todo mês [a um particular] para cuidar do local onde ele está enterrado. Fiz até um jardim, como recomendou a gerência do cemitério.”
A prefeitura diz que, por enquanto, não pensa em construir um novo cemitério e reclama da falta de providências por parte da gestão anterior “para gerenciar a ocupação e expansão do espaço do cemitério”, inaugurado em 1988, com 21.122 covas distribuídas em 39 quadras.
Ameaça de morte e quebra de tradição
Na primeira etapa será exumado quem morreu entre outubro de 1990 e julho de 1992, procedimento que está previsto no Código de Posturas do Município.
O artigo 265 afirma que o direito de uso das sepulturas é de quatro anos e oito meses e, terminado este prazo, os “restos mortais deverão ser depositados em ossários, mediante sistema de aluguel”.
Contudo, a polêmica criada foi tanta que houve até ameaças de morte. “Teve um homem que veio aqui pedir informação sobre este assunto e disse que mata quem mexer com os restos mortais da tia dele”, declarou um dos quatro coveiros, sem querer se identificar.
Único operário ainda vivo entre os que participaram da construção do cemitério, Agdo Batista Anunciação, 79, tem o irmão Ranulfo na lista para ser exumado.
“A gente pagou para ele ficar aqui, então acho que deveria ficar”, disse ele, em referência à taxa de sepultamento, que hoje custa R$ 12,29 –pessoas que comprovam baixa renda são isentas. (mais…)