Sexo ‘inseguro’: crise na Argentina faz vendas de ‘camisinhas’ despencarem
BUENOS AIRES — Na capital mais romântica da América do Sul , os amantes argentinos estão cortando os gastos com importantes itens para garantir o sexo seguro e evitar a gravidez . Em meio a uma forte recessão, desvalorização da moeda e inflação galopante, as vendas de preservativos e pílulas anticoncepcionais despencaram, dizem farmacêuticos e fabricantes.
“A desvalorização do peso está me matando”, brincou o ator e cômico Guillermo Aquino em um vídeo que viralizou na internet, no qual um jovem pede desculpas a uma parceira em potencial, dizendo que resta apenas um preservativo até o fim do ano. “Eu amo você. O problema não é você, mas sim a situação socioeconômica”, acrescenta o humorista.
Por trás da brincadeira, há uma realidade muito mais sombria. A segunda maior economia da América do Sul deve encolher 2,6% este ano e está enfrentando uma inflação anual de mais de 50%. O peso perdeu dois terços do seu valor em relação ao dólar desde o início de 2018, prejudicando as importações e o consumo. As vendas domésticas de veículos, vinhos e carne caíram à medida que a renda dos argentinos encolheu.
No caso das ‘camisinhas’, fontes da indústria estimaram que as vendas caíram 8% desde o início do ano em comparação a 2018 e caíram um quarto nos últimos meses, à medida que a crise econômica piorava.
A maioria dos preservativos, ou os materiais necessários para fabricá-los, são importados, portanto, uma moeda mais fraca tem um impacto imediato no preço, um aumento de cerca de 36% desde o início do ano, disse Felipe Kopelowicz, presidente da Kopelco, fabricante de Tulipán e Gentleman, marcas de camisinhas.
As vendas de pílulas anticoncepcionais também caíram – 6% no ano e um quinto mais recentemente, representantes do setor.
Emiliano Di Ilio, farmacêutico que trabalha nos subúrbios de Buenos Aires, disse que a inflação acentuada fez com que as vendas de preservativos e pílulas contraceptivas em sua farmácia caíssem 20% e 25%, respectivamente, nos últimos dois meses.
— As pessoas vêm, perguntam o preço e depois vão embora — disse ele.
Isabel Reinoso, presidente da Confederação Farmacêutica Argentina, disse à Reuters que os aumentos de preços significam que milhares de mulheres estão deixando de tomar a pílula.
— São cerca de 144 mil mulheres que pararam de usar contraceptivos a cada mês — acrescentou.
Encontros arriscados
Especialistas em saúde pública disseram que o problema pode agravar os níveis de doenças sexualmente transmissíveis.
— Quando você está apenas pensando no dia a dia, a saúde é muitas vezes relegada a segundo plano e a saúde sexual, que ainda é um tabu, é negligenciada ainda mais — disse Mar Lucas, diretor de programa da Fundación Huésped, uma organização sem fins lucrativos argentina que luta contra o HIV.
Ela lembra que o governo distribui preservativos gratuitos em hospitais públicos, mas poucos sabem disso:
— Sabemos que eles raramente são usados, mal utilizados e usados inconsistentemente. E, assim, continuamos tendo muitas infecções sexualmente transmissíveis.
Procurado pela Reuters, o Ministério da Saúde da Argentina não respondeu aos pedidos de comentários.
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