Bahia

Pagamento via celular deve crescer 32% até 2022; saiba que cuidados tomar

Para muitos brasileiros, o celular concentra toda a vida profissional, social e familiar. No aparelho estão seus contatos, a agenda, o trabalho, registros de fotos e vídeos da família. Agora, cada vez mais usuários estão usando o smarthphone para resolver as questões bancárias e fugir do atendimento físico nas agências.

Até 2022, o número de transações móveis deve crescer 32% e físicas apenas 7%, segundo estimativas da FIS (NYSE: FIS) — empresa global de tecnologia financeira. A quantidade de transações com movimentações financeiras por celular aumentou 80% somente no ano passado em comparação ao ano anterior, segundo dados da Federação Nacional dos Bancos (Febraban). Em 2018 foram feitos 2,5 milhões de pagamentos e transferências (incluindo DOC e TED), superando o internet banking. O número de transações bancárias feitas pelo celular, por meio de aplicativos, cresceu 24% em 2018.

O médico Daniel de Almeida, de 36 anos, tem utilizado a tecnologia para pagar menos tarifas bancárias e organizar a vida financeira com mais praticidade. Ele deixou de usar cartões físicos para pagar contas com aparelho:

—Eu praticamente já deixei de usar cartão de crédito físico. Agora, pago tudo pelo celular, com um sistema de pagamento móvel e carteira digital. É muito mais prático, seguro, o celular está sempre à mão. Também já estou usando minha digital para passar o cartão, e pago em menos de dois segundos. E o número do cartão não fica à mostra — afirma Daniel. — Tenho um pouco de medo de vazamento de dados, mas tenho que acreditar na tecnologia. Em outros países, as pessoas já estão deixando de usar o cartão físico. Faço tudo para facilitar a minha vida de pagamentos. A maioria dos boletos já está em débito automático e o que não está faço pagamentos com celular —acrescenta ele.

Pagamento instantâneo e Open Banking

As mudanças que devem ser implementadas pelo Banco Central (BC), em 2020, vão acelerar ainda mais a utilização de tecnologia nos meios de pagamento, reduzir custos e dar mais praticidade. A primeira será o Open Banking com o estabelecimento de um conjunto de regras para permitir o compartilhamento de dados dos clientes entre instituições financeiras, com autorização do usuário. A segunda é o pagamento instantâneo com um sistema que permitirá transferência digital e imediata, e a baixo custo. A expectativa é que as operações deixem de ser concentradas só nos bancos e que novos operadores, como as fintechs — empresas que trabalham com serviços financeiros —, sejam autorizados a participar do mercado.

— Teremos um sistema de pagamento, via meio digital, que vai conectar o sistema tradicional existente hoje. Haverá mais concorrência no mercado, e concorrência baixa preço —José Luiz Rodrigues, sócio da JL Rodrigues, Carlos Átila & Consultores Associados.

Para João Fernando Nascimento, do escritório CSMV Advogados, os avanços vão reduzir os custos:

— Isso porque o dinheiro não vai ficar retido no tempo. Hoje você paga com cartão na maquininha e o dinheiro demora 30 dias para chegar ao lojista — ressalta João Fernando — Hoje temos uma série de custos de intermediação, um TED ou DOC avulso pode custar R$ 20. Isso não existe.

Inclusão de usuários

Com o sistema nacional de pagamento instantâneo, será possível enviar e receber dinheiro durante 24 horas por dia, 7 dias por semana, e a meta dos bancos é fazer com que as transações eletrônicas ocorram em até 10 segundos. De acordo com a Federação Nacional dos Bancos (Febraban), as instituições financeiras já estão se preparando para aderir ao sistema e investindo em infraestrutura, tecnologia e discussões técnicas para padronizar e organizar uma plataforma de pagamentos instantâneos “dentro de um ambiente de segurança e comodidade para o cliente”.

Para Alberto Luiz Albertin, professor da FGV EAESP, as medidas poderão levar à inclusão de novos usuários especialmente de pessoas que hoje estão desbancarizadas, ou seja foram do sistema bancário, especialmente por causa dos custos elevados:

—As camadas menos favorecidas poderão ter acesso, não necessariamente através de um banco, a uma gama de serviços mais ajustada à sua capacidade e necessidade.

José Luiz Rodrigues, da JL Rodrigues, Carlos Átila & Consultores Associados, avalia que as medidas levarão tempo até atingir uma grande parcela da população hoje ainda excluída de meios digitais:

— A internet é cara e o Brasil ainda usa tecnologia 4G. Somos um país com dimensão continental e uma diferença social e exclusão bancária enormes. Leva tempo.

Atuação do regulador

A facilidade e praticidade do pagamento com celular e pela internet, além das novas medidas que possibilitarão o compartilhamento de dados dos usuários vão exigir atenção dos consumidores. Será preciso redobrar os cuidados para evitar ser vítima de golpes e ter as informações pessoais e dados bancários vazados. As duas iniciativas do Banco Central caminham juntos com a entrada em vigor em agosto de 2020 da Lei Geral de Proteção de Dados.

A legislação determina, entre outras medidas, que dados financeiros de clientes de bancos pertencem aos próprios consumidores e não à instituição financeira. Seu compartilhamento também vai depender de consentimento expresso do usuário. João Fernando Nascimento, do CSMV Advogados, lembra que é necessária a atuação de um órgão regulador para fiscalizar a implementação da nova lei e dar segurança aos usuários:

— Vai precisar ter esta figura do regulador, o responsável pela observância das normas e da lei. A permissão de compartilhamento de dados não pode ser por tempo indefinido. Será preciso controlar para que não vire cheque em branco — ressalta João Fernando.

ENTREVISTA: ‘Compensação bancária 24h por dia e 7 dias por semana’, Ingrid Barth, diretora da Associação Brasileira de Fintechs (ABFintechs)

Quais são os serviços que chegarão primeiro?

É possível que Open Banking venha antes que o pagamento instantâneo porque para ele será preciso mudar os processos internamente no Banco Central. Ou seja, estamos falando entre outras coisas de compensação bancária. Hoje, o TED e DOC só são feitos em determinado horário e sem compensação no fim de semana, e no próximo dia útil. O objetivo é transformar estas situações em 24 horas por dia e sete dias por semana.

Quais são as mudanças para o consumidor?

A expectativa é que estes sistemas vão oferecer maior segurança. O intuito é empoderar os consumidores. Hoje, as instituições financeiras são donas dos dados pessoais dos clientes e não compartilham porque o cliente é só delas. Mas isso vai mudar e os dados poderão ser compartilhados, com a permissão expressa do consumidor. Isso quer dizer que a gente vai ter que aprender a compartilhar os nossos dados e teremos que virar viciados em termos de uso dos sites e aplicativos, e política de privacidade. Precisamos realmente entender o que significa autorizar a cessão dos seus dados em vez de clicar em tudo dos termos de uso. Será preciso selecionar as questões com as quais você concorda.

Mas hoje o que temos são termos de uso muito parecidos em que você concorda com tudo ou com nada…

É verdade e isso é um problema para os dois lados, tanto consumidor quanto empresas. Mas o que gostaríamos é que o usuário pudesse selecionar ponto a ponto o que concorda e o que discorda. Os consumidores terão que pesquisar e se informar se os canais de comunicação com as empresas realmente funcionam. Parece complexo mas será preciso aprender novas rotinas de checagem. As empresas vão buscar melhorar o relacionamento com o usuário.

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