Bahia

Divórcios ultrapassam recorde no Brasil; Bahia tem 4.683 separações em dois anos de pandemia

A pandemia trouxe problemas que perpassam questões unicamente sanitárias. O isolamento social, tão necessário durante os períodos mais drásticos da crise do coronavírus, marcou o ano de 2021 com o recorde de 80.573 divórcios no país. O dado é do Colégio Notarial do Brasil, entidade que congrega os tabeliães de notas de todos os estados.

Na Bahia, os Cartórios de Notas (CNB-BA) registraram, no ano passado, 2.513 divórcios — um crescimento de 16% em relação a 2020, quando 2.170 casais deram entrada nos documentos pedindo a separação. O resultado consagrou o estado em décimo lugar no ranking de divórcios do país. São Paulo, Paraná e Minas lideram a lista. A dona de casa Rosana Silva, 51, faz parte das estatísticas. Em junho de 2021, quando passou a conviver mais próxima do marido, decretou o fim do seu casamento. O motivo soa até irônico.

Foi justamente neste momento que sentiu uma maior solidão. “Eu perdi a liberdade de sair. Tive que ficar em casa e ele também ficou muito em casa. Então, às vezes, a gente não se tolerava: eu falava uma coisa, ele entendia outra. Não tinha aquela cumplicidade de um conversar com o outro. Eu gosto de filme, ele de jornal. Eu assistia o jornal com ele, mas ele não assistia os filmes que eu gostava”, relembra.

A mudança nos hábitos, incentivada pela dificuldade do momento, também contribuiu com a separação, revela Rosana. “Antes, ele bebia somente aos domingos, mas ele começou a beber de segunda a segunda porque não tinha para onde ir, não tinha o que fazer. Comprava bebidas, cerveja, whisky, vinho… Então, foi se desgastando, porque você começa a ver o dinheiro sendo gasto em coisas fúteis… Aquilo me deixava frustrada”, lamenta.

A psicóloga Daniele Brandão vê uma “nítida influência” da pandemia no término das relações amorosas, por uma série de questões próprias deste período. “O mais nítido é a proximidade. Muitos casais usavam a distância física — seja no trabalho, estar com amigos — para fugir dos problemas em casa. Então, toda a poeira que foi jogada para debaixo do tapete, o coronavírus levantou. Também contribuiu o medo generalizado. Estava todo mundo querendo acolhimento, suporte do outro, só que o outro também precisava disso, então foi frustrante para muita gente”, considera a profissional, que ainda lista a excessiva relação com a tecnologia e a exaustão de tarefas domésticas como outros motivos fundamentais.